Emily Lima defende cautela no retorno ao futebol: “temos que pensar primeiro na saúde de todo mundo”

Comandando a Seleção Equatoriana desde 2019, a técnica Emily Lima concedeu uma entrevista exclusiva ao Fut das Minas contando como está sendo o acompanhamento das atletas em meio a pandemia, e qual sua visão em relação ao futuro do Futebol Feminino após a crise. 

Quando decidiu mudar de país e enfrentar um novo desafio diante de uma seleção, Emily Lima sabia que teria um grande trabalho pela frente. Desde que assumiu o cargo, sempre ressaltou a confiança e responsabilidade que a Federação Equatoriana de Futebol (FEF) havia depositado na sua equipe. O desafio maior é conduzir as equatorianas à Copa do Mundo de 2023. Mas a pandemia do novo coronavírus impactou e mudou todo planejamento em 2020. 

O Equador foi um dos países mais afetados da América do Sul, mas de acordo com Emily, agora vive uma fase de estabilização. “Passamos um primeiro momento muito crítico, mas as coisas estão graças a Deus se normalizando. Aqui em Quito ainda estamos no vermelho, mas tem cidades que já estão no farol amarelo e verde”, explica. Essa classificação comentada pela técnica, refere-se à forma como o governo está dividindo os pontos do país de acordo com o número de casos e gravidade no contágio. 

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Post no perfil da @fefecuador no Instagram, reforçando a proibição de eventos massivos.

Ao passo que os primeiros casos foram confirmados no país, o governo decretou as primeiras ações de isolamento. No Futebol as atividades paralisaram em 14 de março. Desde então, Emily e sua comissão técnica tem acompanhado à distância as atividades das jogadoras. “Estamos monitorando os treinamentos que os clubes estão passando diariamente para elas. Essa é uma forma de acompanhar mais de perto o trabalho que elas vem fazendo”, pontua. 

Futebol Feminino pode enfraquecer? 

Com as medidas de isolamento sendo adotadas, a questão econômica em vários setores, inclusive no futebol, ficaram bem difíceis. Rumores apontaram até que o Futebol Feminino não sobreviveria. Mas para Emily essa possibilidade está bem distante. “Eu não temo a isso. É claro que não só no feminino, mas também no masculino, a gente vai ter que ter paciência nesse primeiro momento, especialmente no início de 2021. Mas a FIFA vem investindo no Futebol Feminino há um tempo, e agora tem se mostrado interessada em garantir o desenvolvimento da modalidade”, acentua a técnica, complementando com o papel das entidades nesse processo. “O investimento da FIFA é pesado, mas aí cabe a cada Federação e Confederação fazer o trabalho que tem que ser feito, né?” 

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Emily em treinamento com as atletas equatorianas – Foto: FIFA

Em relação à situação econômica do futebol no Equador, a técnica diz que até o momento os clubes têm dado conta. “Aqui os clubes estão conseguindo cumprir. A Federação não precisou se mexer em nada nesse sentido; Mas acredito que se precisar de alguma coisa, com certeza eles vão atender” afirma. 

No Brasil a CBF disponibilizou um auxílio às equipes participantes do Campeonato Brasileiro Série A1 (R$ 120 mil) e A2 (R$ 50 mil). Mesmo estando distante do futebol brasileiro já há um tempo, Emily conta que tem recebido mensagens de jogadoras pedindo apoio. “Eu tô recebendo muita mensagem de meninas de clube da série A2 que não receberam o dinheiro, né? Muitas meninas não receberam e muita coisa não sai na mídia. Como elas sabem que sou uma pessoa que falam, me mandam mensagens”, lamenta. 

Outra questão que mexeu diretamente com o calendário do Futebol mundial foi o adiamento das olimpíadas, antes agendada para junho deste ano, teve de ser  remarcada para o ano de 2021. Sem data fechada até o momento, o Comitê Olímpico Internacional (COI), sinalizou até a possibilidade de cancelamento dos jogos. 

Nesse contexto, questionada se haveria vantagens entre as seleções de países que retornassem às atividades antes que outras, a técnica do Equador foi enfática. “Acho que temos que pensar primeiro na saúde de todo mundo, né? morreram muitas pessoas. Então não tem vantagem e nem desvantagem. Eu acho que a vantagem que temos hoje, são os planos de ação para que menos pessoas morram. Essa é a minha visão. E aí depois a olimpíada a gente resolve mais lá pra frente”. 

Retorno do futebol 

Outra questão polêmica e que tem dividido opiniões, especialmente no Brasil, é em relação ao retorno do futebol. Campeonatos e diversas competições estão paralisadas até uma segunda decisão, que está sendo discutida pelo comitê de crise da CBF. 

Simultaneamente, Emily tem acompanhado a movimentação de alguns clubes e até empresas que “forçam” o retorno do futebol no Brasil. Mesmo ressaltando que não cabe a ela comentar sobre questão política ou econômica do clube, sua opinião é contrária ao retorno neste momento. “Eu acho que as pessoas tem que ter noção do que tá passando no país. Já passaram de 21 mil mortes, e mais de mil em 24 horas. Acho que você tem que parar e pensar, e priorizar isso, né? E não priorizar o futebol, o retorno, e o salário, ou algo assim”, defende.

Ao mesmo tempo, no Equador, a Federação ainda discute uma data para o retorno das atividades. “A Federação teve uma reunião há uma semana atrás, sobre montar o protocolo de retorno. Ainda estão nesse processo de montagem de relatório, com segurança, e acredito que vão voltar assim que o Ministério da Saúde der o OK, inclusive no protocolo”.

Neste tempo de quarentena, Emily tem participado de várias lives e eventos online. Também tem promovido lives em sua própria rede social com nomes importantes do Futebol Brasileiro. A última foi com a Marisa Pires, ex defensora da Seleção Brasileira.

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Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.