O grande passo dado pela Copa do Mundo da França para o futebol feminino

Por: Emília Sosa

Há um ano se encerrava o maior e mais marcante evento da história do futebol feminino. Em uma final entre a multicampeã seleção dos Estados Unidos e a jovem participante de Copas do Mundo, Holanda. Dentro de campo a experiência prevaleceu, e as norte-americanas se consagraram como tetracampeãs. Naquele domingo já sabia-se que aquela edição não era mais uma, mas sim, a que revolucionaria a modalidade. O mundial marcou recordes de audiência, inclusive em território brasileiro. Não foi a melhor atuação da seleção brasileira em Copas do Mundo, mas foi o momento em que o brasileiro mais fez questão de acompanhar os jogos, marcando 30 milhões de espectadores na partida contra a França. E acompanhar também a modalidade, registrando mais de 19 milhões de espectadores no jogo da Final. 

United States of America v Netherlands : Final - 2019 FIFA Women's World Cup France
Megan Rapinoe com a medalha de campeã da Copa da França.  Foto: Getty Images

Esses números e tantos outros registrados durante o mundial, somaram  mais de 1 bilhão de pessoas assistindo e acompanhando o futebol feminino de acordo com os dados divulgados pela FIFA. Isso só foi possível porque a imprensa global enxergou todo o potencial que a modalidade pode oferecer. Pouca gente assistia o futebol feminino, porque eram poucas pessoas que tinham acesso a ele. 

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Comemoração de um gol da Marta.           Foto: CBF

Dos legados deixados pela Copa do Mundo, esse foi um dos maiores, o despertar da paixão do torcedor pela modalidade. De acordo com um levantamento da FIFA, os públicos em estádios bateram recordes em campeonatos por todo mundo. Na Itália um jogo entre Juventus e Fiorentina, que tinha seu maior público em 14.000, em 2019 chegou a mais de 39.000 pessoas em um jogo. Na Superliga Feminina da Inglaterra que tinha um recorde de mais de 5.000, chegou a mais de 31.000 em um derby de Manchester. Mas a mudança não aconteceu só na Europa, no Brasil, o jogo entre Corinthians e São Paulo pela final do Campeonato Paulista, em Itaquera, marcou quase 30.000 pessoas que marcaram presença para ver as mulheres em campo. 

Apesar da seleção brasileira feminina não ter feito sua melhor campanha em mundiais, esse foi um momento muito importante para ouvir o que as mulheres que nos representam têm a dizer. Foi o momento em que Marta usou um batom que bateu recordes de vendas, mostrando para o mercado publicitário o potencial que esse nicho pode ter. Foi o momento de fortalecer a luta para a igualdade de gênero dentro do esporte em geral, quando uma atleta mulher do futebol tem menos oportunidades de patrocínio que um atleta homem de qualquer outra modalidade menos competitiva. Mas também, foi o momento de gritar e pedir atenção às categorias de base do futebol brasileiro. Por competência e qualidade ainda temos jogadoras de mais de 40 anos entrando em campo para defender a seleção brasileira, mas já é hora de pensar em um futuro sem essas jogadoras e começar a preparar a nova ‘leva’. 

Algumas mudanças positivas já foram notadas no Brasil. A sueca e bicampeã olímpica Pia Sundhage foi contratada como técnica para a seleção brasileira. Desde a sua estreia a seleção disputou 11 amistosos, vencendo seis, empatando quatro e tendo somente uma derrota. Mas a principal mudança com a estreia de Pia, foi a variação de jogadoras nas partidas, foram 46 convocadas e praticamente todas tiveram oportunidade de atuar em algum momento nos 11 jogos. Nesse curto período pré pandemia da covid-19, a treinadora experiente conseguiu reformular o sistema defensivo da seleção, que levou 5 gols nas 11 partidas disputadas. O objetivo inicial de Pia é a conquista do inédito ouro olímpico para a seleção brasileira, que seria disputado nas Olimpíadas de Tóquio deste ano, mas foi adiada para 2021, devido à pandemia. 

Pia torneio França. Lucas Figueiredo CBF
Pìa na última convocação antes da paralisação do futebol. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A pandemia veio como um divisor de águas no futebol feminino brasileiro e mundial. A partir dessa crise econômica e sanitária que todos os países vivem, que podemos enxergar qual a verdadeira importância que a modalidade tem para as entidades. No Brasil, desde 2019 a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), obedecendo uma determinação da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) definiu obrigatoriedade de um elenco feminino para os clubes que disputam a série A do campeonato brasileiro. A maioria acatou a norma e começou a investir na categoria. Neste ano que a pandemia de Covid 19 pegou todos de surpresa, a CBF ofereceu uma ajuda de custo para os clubes da série A1 e A2 do campeonato brasileiro feminino, mas nem todos usaram o dinheiro para investimentos e manutenção do elenco feminino. Apesar disso, em sua grande maioria, o futebol feminino no Brasil caminha para um futuro de conquistas, com maior visibilidade em diferentes mídias.

E é com otimismo de mudanças que a diretora do futebol feminino da FIFA, Sarai Bareman, vê o futuro da modalidade no mundo. Garantindo investimentos de 1 bilhão de dólares na modalidade nos próximos quatro anos e buscando acelerar a as pesquisas para a profissionalização das atletas. Em entrevista ao site da FIFA, Bareman fala sobre as expectativas para o retorno do futebol, pós pandemia, “O futebol feminino pode voltar a ser maior, mais forte e mais popular ainda” (tradução do site)

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Sarai Bareman.           Foto: Getty Images

Com sede definida para o próximo mundial, olhamos atentos para o projeto da Austrália e Nova Zelândia para a Copa de 2023, que pela primeira vez vai contar com 32 seleções. Uma coisa já sabemos, futebol feminino dá audiência, vende produtos e tem público para consumir. Agora vamos esperar e fazer com que 2023 seja mais histórico que 2019 foi. 

Jornalista, gaúcha que tem uma relação de amor e ódio com o país RS. Gosta de futebol desde sempre e usa seu espacinho no mundo para defender que mulheres joguem, falem e façam o que quiserem dentro da modalidade. Assiste futebol, fala de futebol, escreve sobre futebol e não sabe nem chutar uma bola. Fala igual uma matraca longe de uma câmera, adora conversar e contar histórias.