O que se faz em um domingo pós futebol? 

Em um país aficcionado pelo futebol como o nosso, é fácil responder essa pergunta. Encerrada as rodadas do fim de semana é hora da resenha. Eu queria muito estar falando do aumento de competitividade do Brasileirão A1 Feminino, ou das jogadoras que estão tendo destaque, e até mesmo do Minas Icesp que conquistou sua primeira vitória. Mas, devido aos últimos acontecimentos que não podem ser ignorados, peço gentilmente licença para emitir uma opinião direta e provocar reflexões necessárias. 

O domingo iniciou com um Flamengo x São Paulo disputando o início da terceira rodada do Brasileiro Feminino. Dois grandes times, craques dentro de campo, o jogo tinha tudo pra ser um espetáculo de bom futebol, e não deixou de ser. Porém, chamou a atenção as jogadoras do banco de reservas de ambas as equipes, que estavam dispostas diante de uma temperatura de 34 graus, às 14h no estádio carioca Giulite Coutinho. Não havia cobertura, proteção, nem tampouco o mínimo cuidado com a estabilidade e saúde das atletas. No entanto, a única coisa repercutida na mídia foi a fala de Filipe Luís, do Flamengo, que mandou uma direta pra CBF alegando ser desumano jogar às 11h da manhã em Brasília. Eu te entendo, Filipe! Quem sabe com você falando, talvez possam reavaliar isso no Feminino também. 

Feita a tarefinha de casa, contato com a CBF que responsabilizou o clube mandante (Flamengo) pela estrutura, e não recebendo nenhuma resposta da assessoria rubro-negra até o momento, já ia começar a me questionar sobre até quando vamos precisar cobrar o óbvio. Esquece! Mal deu tempo de postar sobre isso nas redes sociais. Outra cena lamentável veio à tona. 

Rodada do campeonato mineiro (masculino), Atlético x Caldense. O Galo perdeu o jogo por 2×1, mas não foi só isso. A equipe feminina foi apresentada à torcida antes do início do jogo, e o mascote em um gesto “natural”, segurou a zagueira Vitória Calhau pela mão, fez ela dar uma “voltinha” e saiu diante da câmera esfregando as mãos e sinalizando como se tivesse acabado de receber um Filé Mignon como refeição do dia. Foram necessárias 20 horas para que o clube se comunicasse sobre o episódio. Para mim e tantos outros torcedores e jornalistas que presenciaram a cena, bastaram alguns segundos para reagir com repúdio.

Passado esses acontecimentos, eu pergunto: o que fazer em um domingo pós futebol? 

Eu queria muito falar de gols e da competição em si. Mas é preciso parar e pedir respeito. Dos clubes, dos torcedores e da sociedade. O machismo presente em atitudes como estas, destrói com vigor o argumento de valorização que alguns clubes tentam levantar forçadamente. Mas em geral, tudo fica só na promessa. 

Não é tão difícil rever posturas, promover reflexões e passar a respeitar de verdade o Futebol Feminino. Já tem clubes fazendo isso no Brasil e no resto do mundo. O ato de fechar os olhos e agir com descaso e machismo, é uma escolha consciente. 

 

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.