Promessas: Júlia Correia

A sergipana Júlia Correia encanta seus seguidores com lances, dribles e gols nas quadras e nos campos. Quem vê a menina um pouco tímida em frente às câmeras nem imagina que dentro de quadra ela dá show. A pequena de apenas 9 anos já é destaque na modalidade e, por isso, é nossa quinta entrevistada da série “Promessas”.

A história de Júlia começou no futebol quando ela tinha apenas cinco anos de idade. De tanto insistir com o seu pai, José Luiz, para jogar bola na quadra do condomínio, ela o convenceu de que não queria jogar só por brincadeira, mas tinha talento para ir além. Quando completou seis anos, sua família resolveu levá-la para uma escolinha de futebol. Logo que chegou e viu os meninos jogando, Júlia percebeu que era aquilo que queria fazer. A evolução foi rápida e os pais resolveram buscar vagas também no futebol de salão. A primeira escolinha que foram não tinha time feminino e também não aceitava meninas treinando com os meninos. O primeiro lugar que abriu as portas para a Júlia no futsal foi o time Rocket Power F.C, de Aracaju. Quando o treinador viu Júlia batendo a bola antes mesmo de começar o treino, percebeu que ali tinha algo especial, e pediu para ela treinar com a equipe que disputava as competições. E foi aí que começava a se desenhar a história da nossa promessa no futebol. 

Julia
Júlia segurando troféu do Campeonato Fut7 de Sergipe – Foto: GE SERGIPE

Com sete anos, Júlia participou do primeiro campeonato, o sergipano de futsal. Desde lá, a pequena atleta coleciona títulos e momentos importantes: em 2019 o time Rocket Power foi campeão sergipano de forma invicta. Júlia foi a capitã do time e também a primeira menina a vencer a competição e levantar a taça. No campo, a jogadora treina pelo E.C Del Rey e disputa campeonatos de society. No final de 2018, Júlia disputou um campeonato pela categoria Sub-8, e mesmo tendo apenas sete anos, despertou os olhares de clubes e dos torcedores na competição. No início de 2019, foi convidada pela escolinha do Cruzeiro do Maranhão para jogar a Go Cup, torneio de futebol infantil realizado no estado de Goiás. Ainda em 2019 foi campeã pelo Sub-9 e ficou em terceiro lugar na sua categoria pelo Del Rey. 

Na escolinha em que Júlia treina tem time feminino, porém, é composto por  meninas de todas as idades. Por isso, para disputar os campeonatos ela joga com os meninos. Em 2019, participou de um campeonato feminino que contou com apenas quatro times inscritos. E na sequência só tiveram dois. Apesar de jogar com os meninos, o pai de Júlia menciona que logo ela vai ter que voltar a jogar com meninas por conta da idade. “Nosso trabalho é estimular que as meninas comecem a jogar. Na idade dela é difícil encontrar atletas, e também não existem campeonatos adequados para essa idade.” O talento de Júlia é acompanhado de perto por alguns times e segundo José, o Taboão da Serra-SP,  já fez um convite para que a garota jogue no Sub-12 da equipe.

Na escola, Júlia conseguiu fazer as colegas se aproximarem do futebol. Mesmo com poucas praticando a modalidade, hoje instituição já conta com um time feminino. As colegas de Júlia sabiam que ela queria jogar o campeonato interno e todas se inscreveram para que o time fosse formado. Júlia como sempre foi o destaque e chegou a jogar no gol por alguns minutos para equilibrar a partida. Além de craque dentro dos campos e quadras, ela leva muito a sério os estudos e conta que além de jogadora quer ser arquiteta. 

Júlia em competição – Foto: Redegol Sports

A atleta escolheu a camisa 7 para jogar e não esconde a referência. “Eu gosto do Cristiano Ronaldo”, conta empolgada. Do futebol feminino, a atleta acompanha a Marta e a seleção brasileira, mas diz que apesar das referências quer jogar do seu jeito. “Temos que valorizar o futebol feminino com o melhor que ele tem. Porque se não vamos ficar sempre na sombra do futebol masculino”, afirma José. O pai cita também o apoio a Júlia pelas redes sociais. Erika, zagueira do Corinthians e da seleção brasileira e Milene Domingues, ex-jogadora e atualmente embaixadora do futebol feminino do Corinthians mandam mensagens e acompanham o crescimento dela.

Falando em redes sociais, o Instagram de Júlia é o canal que a pequena usa para publicar seus vídeos de treinos, gols e jogadas impressionantes. Entre as fotos e vídeos de jogos, Júlia também faz desafios. A atleta refez o famoso gol de Marta na semifinal da Copa do Mundo de 2007 contra os Estados Unidos e também o gol de falta de Petkovic pelo Flamengo contra o Vasco na final do Campeonato Carioca de 2001. Na rede, Júlia possui cerca de 6.500 seguidores e divide com eles um pouco da rotina de treinos, conquistas e também do dia a dia. O pai de Júlia administra as redes sociais e filtra alguns comentários. Ele diz que prefere que ela foque apenas em jogar e se divertir.

Quando perguntada do maior sonho, Júlia cita a seleção e os clubes que admira. “Meu sonho é jogar na seleção brasileira e também no Barcelona e Flamengo”, responde. Mesmo com pouca idade, ela já demonstra entender como é a carreira de uma mulher no futebol e logo na sequência fala que jogaria em qualquer time que a chamasse. “Não podemos perder a oportunidade”, completa. 

A mini atleta mostra com orgulho o primeiro tênis que usou quando começou a jogar futebol. Com marcas de uso, ela guarda com carinho aquele que a ajudou a dar os primeiros passos no esporte dos sonhos.   

Devido à quarentena e o isolamento social por conta da pandemia de COVID-19, Júlia está treinando em casa com o pai e adaptando os espaços dentro do apartamento. Durante esse período, ela participou de um concurso de embaixadinhas online e chegou até a fase final da competição. 

Apesar de ainda termos que percorrer um caminho longo em relação aos direitos e oportunidades na modalidade, são atletas como Júlia que fazem o futebol feminino ser cada vez mais forte. Mesmo muito nova, ela coleciona histórias, conquistas e segue provando para quem ainda não entendeu que futebol é sim coisa de menina.

Jornalista. Do campo, quadra e areia, encontrei no jornalismo a junção de duas paixões, o esporte e a comunicação. No Fut das Minas, a missão mais importante: escrever sobre o protagonismo das mulheres no futebol e no mundo. Comentarista às vezes. Palpiteira sempre.
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