A crise do Avaí/Kindermann: atraso de pagamentos pode encerrar história do clube tradicional de Caçador-SC

Site: Avaí/Kindermann

Por Emilia Sosa e Janayna Moradillo

O Avaí/Kindermann, uma das equipes de maior tradição do futebol feminino brasileiro, pode encerrar suas atividades. A equipe catarinense que havia conquistado vaga para a Taça Libertadores Feminina 2021, depois de se consagrar vice-campeã no Brasileirão A1 de 2020, vive uma situação difícil  nos bastidores. 

O problema vem da  parceria com o  Avaí, que tinha o compromisso de repassar  um valor de R$50 mil reais por mês às Caçadoras, e não tem realizado os pagamentos há aproximadamente cinco meses. A parceria foi firmada entre os então presidentes Salézio Kindermann e Francisco Battistotti, representantes dos dois clubes, em 2019, resultando no projeto Avaí/Kindermann. 

O Kindermann futebol feminino

A Sociedade Esportiva Kindermann começou a se destacar em 2004, ao buscar a valorização do esporte feminino através do futsal. Apenas quatro anos mais tarde, em 2008, aconteceu a estreia das mulheres nos gramados, quando se consagraram campeãs catarinenses e levaram o primeiro dos onze títulos estaduais. 


Ainda no primeiro ano, o time chegou às semifinais da Copa do Brasil e até hoje se mantém como uma equipe referência no cenário nacional. Na temporada 2020, foi vice-campeão brasileiro e garantiu a vaga na Libertadores Feminina 2021, participando também  da edição de 2020 da competição continental, herdando a vaga do Corinthians, que já tinha a classificação pela conquista da edição anterior. Além disso, inseriu  quatro jogadoras na Seleção Brasileira principal e bateu recordes de audiências nas transmissões de jogos. 

Acreditando no potencial da modalidade e para facilitar a edição do campeonato estadual de Santa Catarina, em 2017, o presidente Salézio Kindermann, retomou as atividades do Napoli. Com a conquista do título do Brasileirão Feminino A2 2020, o clube garantiu participação na série A1 do Brasileirão Feminino 2021. Com a classificação,a cidade de Caçador possuía dois representantes na elite do futebol brasileiro, fruto de muito esforço e dedicação do Salézio Kindermann.

Início da parceria 

Em 2019, o presidente do Avaí, Francisco José Battistotti estabeleceu uma parceria com o Kindermann, motivado pela determinação da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que, desde 2019, obrigou equipes de clubes da série A (caso do Avaí, na época) a terem uma equipe feminina própria ou criar uma parceria com alguma já existente. 

Em 2021, a parceria foi renovada com previsão de encerramento em fevereiro de 2023. De acordo com nota no site oficial da equipe de Caçador, o combinado entre os clubes prometia apoio financeiro do Avaí em troca de bons resultados esportivos do Kindermann.


Salézio Kindermann à esquerda e Francisco Batistotti à direita, assinando a parceria (Foto: Divulgação /Avaí FC)

A crise dos repasses

O acordo definido entre as duas equipes é de que os repasses do Avaí para o Kindermann seriam de R$50 mil mensais. Entretanto, desde abril, a equipe de Caçador não vem recebendo os valores definidos.

No meio de toda crise, um triste fato que complicou ainda mais a história e permanência dos clubes foi o falecimento do Presidente Salézio Kindermann. Após o ocorrido, a família assumiu os compromissos com o clube e iniciou os trabalhos dentro do planejamento. 

Em agosto, através de um comunicado oficial à Federação Catarinense de Futebol (FCF), o Avaí/Kindermann informou sua desistência do campeonato estadual de 2021. No documento, a direção confirma as dificuldades financeiras do time e reafirma seu compromisso no planejamento para a disputa da Copa Libertadores.


Íntegra do documento no qual o Kindermann desiste do estadual (Foto: reprodução)

No entanto, apesar das incertezas financeiras, no dia 18 de agosto, um dia depois da divulgação do ofício, em seu site oficial, a FCF assegurou a participação do clube no estadual. Porém, conforme apuramos na reportagem, ainda segue incerta a participação do Avaí/Kindermann no estadual de 2021.

Em setembro, completam cinco meses de atraso nos repasses do Avaí ao Kindermann, com isso, a família Kindermann assumiu o compromisso de tentar disputar a Libertadores Feminina 2021, que foi adiada para novembro. 

Atual situação do Kindermann

Apesar da incerteza nas atividades do restante da temporada, as atletas do Avaí/Kindermann seguem em Caçador, se encontrando no alojamento e realizando os treinos normalmente. De acordo com uma fonte que prefere não se identificar, as jogadoras têm recebido as condições básicas de trabalho.”A família se esforça ao máximo para continuar. O problema financeiro não é de agora, mas eles estão lutando para deixar tudo em dia”, contou. 

De acordo com a fonte, a atual diretoria do Kindermann trabalha com transparência com jogadoras e funcionários: “A diretoria tem sido bem transparente com a gente. Até então nós temos a informação da semana passada que não tinha resposta do Avaí e assim que tiver alguma resposta a diretoria vai estar em contato com a gente”.

A dívida chega aos R$ 200 mil

De acordo com o jornalista Polidoro Júnior, a proposta ao Avaí foi de R$ 150 mil reais até a última quarta-feira (08/09), valor que possibilitaria a participação do clube na competição mais importante da temporada: a Copa Libertadores Feminina 2021. Caso a equipe não consiga disputar o campeonato, sua vaga será herdada pelo São Paulo, que fez a terceira melhor campanha do Brasileiro Feminino A1 de 2020.   

Procurado pelo Fut das Minas, através de sua assessoria, o Avaí informou não tratar desse assunto com a imprensa, ressaltando que a conversa direta ocorre entre o clube e a família Kindermann.

A dívida completará R$ 250 mil ao final deste mês, somando cinco meses de atraso no repasse financeiro. Até o fim da produção desta reportagem, o Avaí não havia realizado o pagamento acordado entre os clubes.  

Nesse contexto, se o  Avaí não cumprir com seus compromissos financeiros, a tendência é de que todas as atletas sejam dispensadas, encerrando precocemente a temporada do Kindermann e deixando um futuro incerto para 2022.

Caso esse cenário se confirme, assim como os extintos Foz Cataratas-RS e Rio Preto-SP, o Kindermann seria mais um clube tradicional e repleto de história, que seria desfeito por ausência de apoio e suporte financeiro. Mais uma perda imensurável para a modalidade.

Jornalista, gaúcha que tem uma relação de amor e ódio com o país RS. Gosta de futebol desde sempre e usa seu espacinho no mundo para defender que mulheres joguem, falem e façam o que quiserem dentro da modalidade. Assiste futebol, fala de futebol, escreve sobre futebol e não sabe nem chutar uma bola. Fala igual uma matraca longe de uma câmera, adora conversar e contar histórias.
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