O Brasileirão Feminino se encaminha para a reta final da fase classificatória com o fim da décima primeira rodada. Contudo, Grêmio e Internacional estão com três e quatro jogos atrasados, respectivamente, em virtude das fortes chuvas que devastaram parte do Rio Grande do Sul. Diante disso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) elaborou uma proposta para repor esses confrontos de forma a cumprir o calendário atual.
Segundo as informações trazidas pela GZH, a intenção da entidade é que as Gurias Gremistas e Coloradas joguem de três em três dias, ou 66 em 66 horas, já incluindo os deslocamentos referentes às partidas. Com isso, o cronograma inicial seria obedecido e a última rodada mantida no dia 27 de junho.
Posicionamento dos clubes
A proposta foi feita em uma reunião com a CBF na última sexta-feira (17). No encontro, os dirigentes explicaram o quadro de seus times, as dificuldades que passavam e de que maneira estavam conduzindo a situação.
Em entrevista à Rádio Guaíba, no domingo (19), diretora do departamento de futebol feminino do Grêmio, Marianita Nascimento, confessou que esta não é uma boa solução para o Tricolor.
“O que vimos nessa reunião, a tabela está programada e parece intocável. Eles estão com boa vontade, mas mesmo resolvendo com todas as ferramentas e boa vontade que possam ter, haverá prejuízo técnico, não tenho dúvida.”
Do lado do Internacional, ainda não houve posicionamento acerca da proposta. No entanto, o clube emitiu uma nota oficial em 16 de maio a respeito da situação.
“Estamos muito sentidos pelas pessoas atingidas em nosso estado. O Rio Grande do Sul está no coração de todas as atletas. Vamos nos preparar para representar nosso povo colorado, especialmente aqueles que estão sofrendo. Pela torcida, jogaremos até o último segundo em todas as oportunidades, dentro e fora de campo”, comentou o diretor de futebol feminino, César Schunemann.
O que diz o regulamento
Importante destacar que essa proposta está amparada pelo artigo 27 do Regulamento Geral de Competições (RGC). No entanto, fere alguns dos princípios positivados no artigo 1º, como a isonomia, a igualdade de oportunidades e o equilíbrio das disputas.
Isso porque em vez de jogar uma partida por semana, como os demais times, as equipes gaúchas jogariam até três. Esse excesso, agravado pelo desgaste das viagens, poderá prejudicar as equipes principalmente no quesito físico. Além disso, a interrupção da rotina de treinamentos influencia também no quesito técnico.
Futebol feminino em segundo plano
O quadro trágico no Rio Grande do Sul já dura quase um mês, com 46 municípios em estado de calamidade pública e 320 em situação de emergência. A partir de então, os clubes cobraram da CBF a adoção de medidas para proteger suas competições.
Depois de cerca de duas semanas, a entidade atendeu ao pedido de 15 times da Série A do Brasileirão masculino e paralisou o torneio por duas rodadas. No que diz respeito ao feminino, houve a suspensão dos jogos nas Séries A1 (Inter e Grêmio), A2 (Juventude) e A3 (Brasil de Farroupilha) até o dia 27, mas sem paralisação. Isso porque, conforme informaram, não houve iniciativa dos dirigentes dos clubes.
“O futebol feminino ficou para depois, acho que podiam ter sido coisas conjuntas. Acho que teríamos tido outra solução e mais tempo pro que estamos precisando agora (…) Nesse aspecto de datas, sendo franca, frisando que é minha leitura, acho muito difícil que paralise. Nós gostaríamos disso“, disse Marianita à Rádio Guaíba.
Indefinições de mando de campo e viagens
A princípio, os jogos da décima segunda rodada – marcados para os dias 7,8 e 9 de junho em diante – estão mantidos. O Grêmio terá pela frente o Flamengo (fora), o Cruzeiro (casa), o Real Brasília (casa) e o São Paulo (fora). Já o Internacional, jogará contra Atlético-MG (casa), Botafogo (fora), Palmeira (fora) e Santos (casa).
Mesmo com esse planejamento, dois pontos ainda estão indefinidos: o mando de campo e a forma como os times viajarão para os duelos fora de casa. O aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, está inoperante por tempo indeterminado, segundo a concessionária Fraport Brasil.
Sobre o local dos jogos, o CT Hélio Dourado, casa do Tricolor, não poderá receber partidas por ter ficado submerso na enchente. Uma alternativa é o Complexo Esportivo da Ulbra, onde as atletas já retomaram os treinamentos. Por sua vez, o colorado deverá manter seus jogos no Sesc Protásio Alves, que passa por uma troca de gramado, mas que deve ficar pronto a tempo.
“Estamos passando ainda por consequências dessa tragédia, que foi histórica no nosso estado. afetou diretamente a todos e lá no nosso CT, na Ulbra, não é só um CT que está funcionando, está recebendo muitas pessoas que estão lá no dia a dia e as gurias se envolveram emocionalmente, não tinha como não se envolver. (…) Estamos nessa força tarefa e isso fez com que parássemos as questões de treino. Estávamos em alto nível, então também tem essa questão técnica que vai atrapalhar bastante”, comentou a dirigente do Grêmio.
Times já voltaram a treinar
Ambas as equipes já se reapresentaram para dar continuidade aos treinamentos. O Internacional está treinando provisoriamente no Parque Esportivo da PUC, já que o campo principal do Sesc ainda não está pronto. Enquanto isso, o Grêmio se prepara no Complexo Esportivo da Ulbra, onde muitas atletas residem nos alojamentos.
No entanto, o campus das Gurias Gremistas fica em Canoas, uma das cidades mais afetadas e está com limitações por estar servindo de abrigo provisório para mais de seis mil pessoas. Por conta disso, a estrutura do local passou por mudanças e a academia, por exemplo, está ocupada por pessoas desabrigadas, não podendo ser utilizada pelas atletas.
“Independente da definição que venha, vamos nos preparar. Se a solução é jogar dentro desses dias, então tenho que preparar minha equipe para essa situação. Mesmo sabendo que tecnicamente estou sendo prejudicada, que dentro do conjunto todo – hoje seria um jogo por semana -, vamos acabar fazendo dois. Supondo que seja essa a posição adotada, estou me preparando para essa possibilidade”, afirmou a diretora tricolor.
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