Experiência, renovação e novas oportunidades: o que a lista de Pia tem a nos dizer? 

Lucas Figueiredo/CBF

*Por Amanda Porfirio e Mariana Santos

Faltando mais de um ano para a Copa do Mundo, a Seleção Brasileira Feminina, comandada pela técnica Pia Sundhage, segue na preparação para o Mundial que acontece na Austrália/Nova Zelândia em julho de 2023. Antes, o Brasil precisa disputar e vencer a Copa América Feminina para garantir a vaga no Mundial.

O torneio tem início no próximo dia 8 e também servirá como um teste importante para definir a equipe ideal da técnica Pia Sundhage.

Visando a primeira conquista da Copa América à frente da seleção, Pia Sundhage convocou, nesta segunda-feira (06), as 23 jogadoras que representarão o Brasil no torneio continental. Favorita ao título e maior vencedora com sete conquistas, a seleção passa por um processo de renovação desde a chegada da treinadora sueca, em 30 de julho de 2019. 

Nas últimas convocações, Pia manteve a base de jogadoras experientes e pôde contar com atletas jovens que estão ganhando espaço na seleção. Para esta edição da Copa América, no entanto, o Brasil não contará com sua principal estrela, Marta, que se recupera de uma cirurgia após sofrer uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho esquerdo. 

Lista da Copa América é igual a Copa do Mundo? 

Cada treinador (a) tem um método de trabalho e gerenciamento de grupo. Desde que a Pia chegou, novas jogadoras entraram no radar da treinadora e algumas que tinham presença constante na seleção foram perdendo espaço para as atletas mais jovens. 

Lucas Figueiredo | CBF

Nas últimas duas Copas Américas (2018 e 2014), quando a Seleção Brasileira era comandada pelo técnico Vadão, a lista final para o torneio ocupou um papel decisivo na escolha de jogadoras também para a Copa do Mundo do ano seguinte. 

Com a base montada, mais da metade da lista de presentes nas convocações do ex-técnico da seleção para as Copas Américas de 2014 e 2018, também esteve na Copa do Mundo de 2015 e 2019. Sendo 66,6% (14 atletas) da lista de 2014 e mais de 72% (16 atletas) das convocadas de 2018. 

Para a Copa América deste ano, será a primeira vez em que a Seleção Brasileira não conta com nenhuma jogadora do lendário e vitorioso trio Marta, Formiga e Cristiane, que estiveram presentes em diversas gerações e conquistaram os principais títulos da amarelinha, como o Pan-Americano de 2007, além do vice-campeonato Mundial em 2007 e a medalha de prata nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. 

A lista de convocadas para o torneio continental reuniu atletas experientes e de confiança da comissão técnica brasileira, como Debinha, Rafaelle e Tamires, jovens talentos como Kerolin, Tainara e Gio Queiroz, além de jogadoras que tiveram novas oportunidades com a treinadora, casos da goleira Luciana e da zagueira Kathellen.

E quando se fala em renovação, a lista da Pia para a Copa América é um prato cheio. Apesar do Brasil ter vencido sete das oito edições do torneio, a maior parte das atletas da lista nunca disputaram a competição. Das 24 convocadas, apenas seis estiveram presentes em edições anteriores do torneio, são elas: Letícia Izidoro e Luciana (goleiras), Rafaelle e Tamires (defensoras) e Debinha e Bia Zaneratto (atacantes).

Agora, para entender melhor o que se pode esperar a partir da lista de convocadas da Pia para a Copa América, é importante fazer uma análise particular de cada setor.

Goleiras

No gol, não houve muitas surpresas em relação às últimas convocações. A técnica Pia Sundhage manteve Letícia Izidoro (Corinthians) e Lorena (Grêmio) como nomes certos na lista. Nos últimos testes da seleção, Lorena tem se firmado como goleira titular. A terceira goleira, posição que a treinadora testou diversas atletas, desta vez teve o retorno de Luciana (Ferroviária). 

Thaís Magalhães/CBF

Nas últimas convocações, a vaga conquistada por Luciana já foi ocupada por Mayara (Internacional), Jully (Palmeiras), Karen (Minas Brasília). Antes a vaga era bastante ocupada por Aline Reis, que divulgou sua aposentadoria dos gramados esse ano. 

O fato é que a Luciana é uma boa escolha, tem uma ótima performance no gol, entretanto não fica muito atrás dos nomes citados acima. A escolha dela é importante para dar mais oportunidade de análise e ajudar a definir a terceira vaga no gol, já que as duas primeiras parecem estar mais consolidadas por Lelê e Lorena. 

Defesa

A defesa da Seleção Brasileira foi o setor mais ajustado por Pia e comissão desde 2019. Com Rafaelle entre os principais nomes do setor, o Brasil passou a sofrer menos gols e consequentemente passar maior segurança para o estilo adotado por Pia. De 33 jogos à frente da seleção, Pia tem 19 vitórias, 10 empates e quatro derrotas. 

Ao lado de Rafaelle, Erika era nome constante nas convocações, mas está fora dos gramados desde novembro de 2021 devido a uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho direito. Na ausência de Érika, Tainara e Antonia têm revezado na posição, com Antonia também fazendo a lateral direita em algumas oportunidades. Daiane também já foi chamada para a posição. 

Lucas Figueiredo/CBF

Desta vez, quem ganhou uma vaga na defesa foi Kathellen, que retornou aos gramados em outubro após ficar fora por sete meses devido também a uma lesão do Ligamento Cruzado Anterior do joelho (LCA). A zagueira do Internazionale da Itália tem boa estatura e saída de bola de qualidade e, por isso, ganha mais uma oportunidade com Pia. 

Nas laterais, o Brasil vive situações opostas. Se pelo lado esquerdo Tamires é unanimidade, e convocada por Pia desde que assumiu a seleção, o lado direito ainda causa dores de cabeça na treinadora, que já testou Poliana, Bruna Benites, Camilinha, Bruninha, e que agora na Copa América terá Letícia Santos, que já assumia essa posição na ‘era Vadão’.

Fernanda Palermo foi a outra lateral escolhida por Pia, e apesar de fazer a posição de lateral esquerda, a atleta também atua pelo lado direito, sendo mais uma opção para a posição. 

Meio-campo

O meio de campo, juntamente com a defesa, talvez tenha sido o setor que sofreu mais reestruturações com a chegada da Pia. Todas as meio campistas convocadas pela técnica vão disputar a Copa América pela primeira vez, ressaltando ainda mais a identidade de renovação que a sueca trouxe para a Seleção. 

Thaís Magalhães | CBF

E é exalando juventude que o meio de campo da seleção vem desenvolvendo um trabalho com caráter ofensivo e apostando na velocidade e criação das peças disponíveis. Se na era Vadão a Seleção era conhecida e duramente criticada pelas jogadas longas “chuveirão”, com a chegada da Pia as coisas mudaram. A técnica ressaltou na equipe a capacidade de trabalhar com e sem a bola, construindo as jogadas do setor defensivo até a conclusão no ataque. 

Nos últimos jogos, onde boa parte das atletas que estão na lista estava presente, conseguimos ver em campo uma característica intensa de marcação alta, disputa de bola e definição. Os nomes que mais têm se destacado e chamado a atenção são Ary Borges, assumindo um papel importante na construção, e Kerolin, que joga mais avançada e se destaca pela definição, marcando gols e criando chances no setor ofensivo. 

Outros destaques individuais no setor ficam para Adriana, que tem como característica velocidade e precisão no chute, além de uma qualidade técnica excepcional, e as duas Dudas. Duda Santos, do Palmeiras, que está em alta performance no Brasileirão e já esteve presente em outras convocações da Pia e Duda do Flamengo, sempre decisiva, muito técnica e com boas características físicas e técnicas, que também tem funcionado bem no setor.

Quem comanda o meio? 

Com a ausência da Marta, até então o nome de mais experiência do grupo, o papel de comando talvez recaia sobre Luana, que antes era uma das atletas de maior confiança da Pia no setor de transição. Outra candidata também a assumir um posto de comando no meio de campo é a jovem Angelina, que herdou a camisa 8 da Formiga e tem tido uma postura positiva na organização estrutural das jogadas ofensivas e de contenção da seleção. 

Porém, a camisa 10 provavelmente será usada pela Gabi Portilho, que já a vestiu nos dois últimos amistosos que disputou. Pouco utilizada, a atacante do Corinthians tem muito potencial e só precisa de espaço para mostrar o que pode fazer na Seleção. Quem sabe não seja a Copa América o espaço ideal para revelar o melhor do futebol da craque corintiana? 

Lucas Figueiredo/CBF

Ataque

A lista de jogadoras ofensivas da Pia foi a com menos novidades dentre as atletas convocadas. A técnica conta com Debinha, jogadora que mais vezes foi chamada pela treinadora desde que assumiu a seleção (17 vezes) e também Bia Zaneratto, experiente atleta e com boa campanha pelo Palmeiras, atual líder do Campeonato Brasileiro.

Para completar o ataque, foram chamadas três jogadoras do Campeonato Espanhol e que têm se destacado pelo seus times na Liga. Gio Queiroz, do Levante, e Geyse e Gabi Nunes, do Madrid CFF. Dessas, Geyse é a mais experiente na seleção e conquistou espaço com Pia Sundhage após boas atuações com a amarelinha, sendo chamada pela técnica em dez oportunidades.

Gio Queiroz é uma aposta da seleção feminina. Com tripla nacionalidade, a atleta teve passagens pelas categorias de bases das seleções espanhola e dos Estados Unidos. Filha de brasileira, a jogadora foi procurada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aceitou defender a seleção canarinha, que desde então se tornou sua escolha. Gio fez parte do grupo das OIímpiadas de Tóquio 2020, disputando uma partida, e já foi chamada pela treinadora nove vezes. 

Gabi Nunes é o nome mais recente do ataque de Pia, mas que já deixou sua marca no último jogo amistoso, marcando dois gols na vitória do Brasil por 3 a 1 contra a Hungria. A atacante do Madrid CFF teve destaque em sua passagem pelo Corinthians e foi chamada pela treinadora nas últimas convocações. 

Base formada 

As escolhas de Pia Sundhage para a Copa América refletem os discursos da treinadora durante as entrevistas coletivas. Ela aposta na juventude e no talento brasileiro, mas foca também no forte treinamento tático, junto à sua comissão técnica.

 A técnica entende que a seleção passa por um processo de renovação dentro e fora dos gramados, e busca implantar cada vez mais um pensamento vencedor dentro da seleção, que a acompanha desde que comandava a multicampeã seleção americana e seguiu com a técnica nas ótimas campanhas frente a seleção de seu país, a Suécia. 

Na defesa, Tainara e Antônia se tornaram peças chave do esquema do Brasil, que conta com Rafaelle e Tamires, experientes jogadoras. O meio com Angelina e Luana tem duas jogadoras técnicas e de qualidade na saída de bola, característica que precisa ser melhor aproveitada pela seleção, além da velocidade e talento de Duda e Kerolin, jovens atletas. 

Gabi Nunes comemorando um gol pela Seleção. Lucas Figueiredo | CBF

No ataque, a treinadora tem opções para os diversos esquemas, pode usar Debinha e Geyse como extremas, aproveitar Bia pelos lados de campo ou como uma ‘9’, função que Gabi Nunes tem executado bem nos últimos jogos. Além disso, Pia também tem a opção de Gio pelas laterais, jogadora de explosão e velocidade.

Testes antes da Copa América

Novos nomes vão surgindo e é sempre importante testá-los. Para isso, a treinadora terá dois amistosos antes da Copa América para encontrar a formação ideal para a competição. Na ocasião, também vai poder contar com a jovem e talentosa Duda Sampaio, meia do Internacional, chamada para ser suplente na lista da Copa América. 

Na Data FIFA de junho, o Brasil enfrenta Dinamarca e Suécia, nos dias 24 e 28,  respectivamente. As partidas serão transmitidas ao vivo pela Globo. Já a Copa América terá transmissão completa, pela primeira vez, pelo SBT.

Com o grupo já escolhido para esses desafios, a opção de mesclar experiência e juventude mostra, de fato, a nova cara que a técnica quer dar para a Seleção Brasileira. 

Jornalista. Do campo, quadra e areia, encontrei no jornalismo a junção de duas paixões, o esporte e a comunicação. No Fut das Minas, a missão mais importante: escrever sobre o protagonismo das mulheres no futebol e no mundo. Comentarista às vezes. Palpiteira sempre.
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