A Seleção Brasileira Feminina chega para a sua oitava Copa do Mundo em um momento bem diferente das edições anteriores. De 2019 até agora, o time brasileiro vem passando por uma renovação dentro e fora das quatro linhas. Além da chegada da técnica Pia Sundhage, a estrutura de gestão também teve mudanças, a principal delas, com mulheres assumindo cargos de comando.
Para entender como a Seleção Feminina chega para Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia, o Fut das Minas conversou com a Ana Lorena Marche, supervisora de Seleções Femininas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sobre todo o processo de preparação para o mundial.
Balanço do ciclo para a Copa do Mundo 2023
Em 2019, depois de cair nas oitavas de final da Copa do Mundo da França para as anfitriãs, a Seleção Brasileira começou um ciclo de renovação. A contratação da técnica Pia Sundhage e de sua comissão técnica trouxe mudanças não só das jogadoras que defendem a Seleção, mas também nos métodos de trabalho, com a equipe buscando levar as Guerreiras do Brasil à elite do futebol feminino mundial.
Neste caminho, tivemos as Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando o Brasil acabou caindo nas quartas de final para o Canadá, que depois conquistaria a medalha de ouro. Em 2022, a equipe brasileira conquistou o título da Copa América, de forma invicta e sem sofrer gols.
Agora, o terceiro grande desafio desse ciclo é a Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia. A supervisora das Seleções Femininas, Ana Lorena Marche, acredita que todo o planejamento feito para chegar ao mundial foi cumprido.
“A gente tinha alguns objetivos. O primeiro ponto era ganhar a Copa América e a gente conseguiu as vagas. Depois disso, era que a gente pudesse enfrentar diferentes seleções de quase todos os continentes e conseguimos. Enfrentamos o campeão africano, um asiático, grandes europeus, EUA e Canadá. Além disso, fora de campo, um planejamento de mudança, principalmente da comissão técnica. Fizemos algumas contratações importantes para que a gente se estruturasse melhor. Hoje, a gente está com uma comissão técnica maior (…) Então, todos os objetivos que a gente tem traçado, estamos conseguindo cumprir”, destaca Ana Lorena Marche.
Maior delegação da história
A Copa do Mundo 2023 promete ser uma das maiores da história em questões de público, audiência, visibilidade, nível técnico e outros aspectos. E para a Seleção Brasileira não será diferente. Segundo Ana Lorena, o Brasil vai para a Austrália e Nova Zelândia com a maior delegação da história. Somando as 23 jogadoras que serão convocadas, mais as suplentes, ao todo, serão 55 pessoas.
Além disso, outro ponto destacado pela supervisora de Seleções Femininas, é de que mais mulheres estarão presentes na comissão e na delegação do Brasil, sendo a maior de todos os tempos.
“A gente vai com a maior delegação e comissão técnica da história e com o maior número de mulheres da história. A gente vai ter um número grande de mulheres participando, principalmente, em cargos de comando, que em 2019 não teve”, revela a gestora.
Em comparação à Copa da França, a Seleção vai contar com mais profissionais no Núcleo de Saúde e Performance, para que as jogadoras possam ter uma recuperação mais rápida entre os jogos. Além disso, analistas técnicos serão contratados especificamente para irem à Copa do Mundo. O objetivo é que eles acompanhem as partidas de outras seleções para a coleta de dados e informações.
Outro aspecto que terá uma atenção neste mundial é o aumento da segurança das atletas e de todos os membros da delegação brasileira. “A gente aumentou o número de seguranças, porque há cada vez mais visibilidade, mais acesso [às jogadoras]. Inclusive, a gente tem conversado bastante com essa área e com as atletas. Temos que tomar alguns cuidados a mais, agora”, explica Ana Lorena.
Preparação em Brisbane
No dia 24 de julho, a Seleção Brasileira faz a sua estreia na Copa do Mundo, diante do Panamá, no estádio Hindmarsh, na Austrália. Mas, 14 dias antes, a equipe brasileira já vai estar em solo australiano, na cidade de Brisbane, para começar o período de preparação para a Copa.
A escolha de Brisbane como base da Seleção Brasileira para o mundial não foi por acaso. Ir para o outro lado do mundo, com fuso horário e clima diferentes, exige uma adaptação grande para disputar a competição. Por conta disso, a cidade de Brisbane foi escolhida em conjunto com o Núcleo de Saúde e Performance, comissão técnica e setor administrativo da equipe brasileira. Ana Lorena explica que muitos detalhes foram levados em conta.
“Hoje, a gente trabalha com uma visão bem sistêmica aqui dentro e com pessoas muito capacitadas (…) Pensamos no índice pluviométrico, na temperatura onde as atletas vão estar para que a gente chegue em uma temperatura um pouco mais parecida dos locais dos jogos. Também escolhemos a cidade de Brisbane pela questão logística. Por exemplo, o jogo contra a França que é um dos mais importantes para a gente. Não teremos que viajar para essa partida, o que vai fazer com que as atletas descansem mais”, explica a supervisora.
Além disso, Ana Lorena Marche revelou que o hotel onde o time brasileiro vai ficar hospedado no período de preparação é à beira de um lago, em um lugar mais isolado e calmo para que a equipe tenha mais privacidade.
Metas para a Copa do Mundo 2023
A melhor campanha da Seleção Brasileira em Copas do Mundo foi em 2007, quando a equipe foi vice-campeã. De lá para cá, o Brasil vem amargando eliminações nas fases eliminatórias. Para 2023, Ana Lorena Marche não esconde que o sonho é de que as Guerreiras do Brasil sejam campeãs, mas, a meta mais objetiva traçada pela Seleção Brasileira é voltar a ser protagonista no futebol feminino mundial.
“Eu acho que a gente quer ser obviamente campeão, acredito que isso está dentro dessa garra, dessa gana que a gente tem. Mas o principal objetivo é ser protagonista, voltar a estar entre os quatro, voltar a querer estar perto de conquistar uma medalha. Porque quando a gente percebe as quatro equipes que chegam na fase semifinal, a diferença é muito pequena, são detalhes que decidem um jogo, quem vai para a final ou não (…) A gente precisa estar no primeiro escalão e a gente precisa estar de volta à essa primeira prateleira”, destaca Ana Lorena Marche.
Legado da Copa do Mundo e retorno da Seleção Sub-15
A Seleção Brasileira ainda nem estreou na Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, mas já é possível pensar no legado que vai ser deixado. Afinal, são quatro anos de um novo trabalho que trouxe mudanças importantes para o Brasil dentro e fora de campo.
Independente do resultado do time brasileiro nesta Copa, os pontos positivos e negativos poderão ser vistos e vão servir como base para os ciclos de preparação para competições futuras.
Para Ana Lorena Marche, o grande legado deixado será o de renovação e profissionalismo dentro da Seleção Brasileira. “Eu acho que de legado, a Pia traz muito isso, de renovação, principalmente das atletas, cada vez melhorar os processos no dia a dia, um número muito maior de pessoas trabalhando, isso faz com que os processos sejam melhorados e uma atenção maior com as atletas (…) Então, acho que o que a gente pode deixar de legado aqui dentro é esse olhar cada vez mais profissional e uma forma mais sistêmica de olhar essa atleta e esse todo, onde todo mundo faz parte de escolha de adversário, de uma logística de viagem, da escolha de uma sede. Esse olhar transdisciplinar, em que todos estão dentro deste sistema”, destaca a gestora.
Já pensando nesse legado, uma novidade é a retomada da Seleção Feminina Sub-15. Em uma entrevista coletiva concedida na véspera da Finalíssima Feminina contra a Inglaterra, a técnica Pia Sundhage, ao ser perguntada sobre a possibilidade do Brasil sediar a Copa do Mundo Feminina, disse que o país precisava estruturar a modalidade melhor para receber a competição. Um dos aspectos que a treinadora trouxe foi a falta de categorias sub-15 e sub-16 na Seleção Brasileira Feminina.
A supervisora de Seleções Femininas disse que o retorno da categoria sub-15 deve acontecer em julho. A ideia é fazer as convocações de forma mais periódica e observar e preparar essas jogadoras com treinos e jogos amistosos com equipes nacionais.
“Agora em julho vamos ter a convocação da sub-15, vamos voltar a ter, mas agora um pouco mais periódico (…) A gente cada vez quer dar mais atenção, mais jogos internacionais [para a seleção sub-15]. Existe uma dificuldade muito grande de ter jogos internacionais na base, não é tão simples, mas a intenção é cada vez mais a gente possa dar minutagem, dar experiência para essas atletas, pensando já em 2027”, revela a Ana Lorena Marche.
Ana Lorena Marche disse que por conta da dificuldade de ter competições internacionais na categoria sub-15, neste primeiro momento, o foco vai ser dar bagagem para as meninas convocadas, por meio de amistosos com equipes do Brasil.
“Vai ser um período de preparação para ainda observar essas atletas, poucas equipes no mundo tem sub-15 que a gente possa realizar amistosos, não existe competição sul-americana sub-15, diferente da masculina. Então, acho que nesse período é convocá-las durante as férias escolares. Por isso, no final de ano a gente deve ter outra convocação (…) Talvez colocar para fazer amistosos não internacionais, mas, com outras equipes nacionais masculinas sub-15. Tudo isso é que vai ajudar a dar bagagem para elas, mas, que para o futuro, a gente possa pensar em amistosos internacionais para essa categoria”, destaca Ana Lorena.
A Seleção Feminina Sub-15 vai funcionar em conjunto com a Sub-17, para que seja feito um trabalho de integração entre todas as categorias. “Vai ser uma mescla com a sub-17, para que a gente possa ter mais continuidade e integração. Eu acho que esse é o principal ponto, não é uma categoria que tem competições, é uma categoria que vai acontecer muitas vezes fora das outras convocações das outras categorias. Então a gente consegue fazer essa mescla, pensando principalmente no objetivo de integração dessa menina, de quando ela tem 14 anos até ela chegar no profissional (…)”, explica a supervisora de Seleções Femininas da CBF.
Calendário da Seleção Brasileira na Copa
O Brasil está no grupo F, ao lado de França, Jamaica e Panamá. Na primeira fase, a Seleção Brasileira vai disputar três jogos.
1ª rodada (24/07): Brasil x Panamá, no Hindmarsh Stadium, às 8h, no horário de Brasília.
2ª rodada (29/07): França x Brasil, no Brisbane Stadium, às 7h, no horário de Brasília.
3ª rodada (02/08): Jamaica x Brasil, no Melbourne Rectangular, às 7h, no horário de Brasília.
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