Por Rafaela Rasera, Amanda Porfirio e Vitória Soares
Durante a última rodada da primeira fase do Brasileirão Feminino A1, na última segunda, 12, o jogo entre Real Ariquemes e Santos, no Estádio Aluízio Ferreira, em Rondônia, não aconteceu. As jogadoras do Real Ariquemes não entraram em campo em protesto contra salários atrasados. Além da falta de pagamentos, as atletas têm que lidar com a estrutura precária do time.
Uma fonte que não quis se identificar afirmou que as jogadoras do Real Ariquemes treinam em academia de rede, não têm acesso a profissionais da saúde, como médicos e fisioterapeutas, e chegaram a viajar sem alimentação para jogos fora de casa.
“No treino, a gente não tinha um doutor que ficava no campo, nem um fisioterapeuta. A gente tinha Smartfit para treinar, tinha alojamento e uma pessoa para fazer a comida para nós”, afirmou.
De acordo com informações de bastidores, o último treino das atletas em campo havia sido no CT do Cruzeiro, quando enfrentaram o Atlético-MG, na penúltima rodada, no dia 4 de junho.
Presidente impôs ‘acordo’ para pagamento
Segundo apurou a reportagem, o presidente do clube, Chico Pinheiros, afirmou que faria o pagamento de um salário atrasado com a condição de que as atletas entrassem em campo diante do Santos.
Apenas três atletas receberam a transferência de um mês de salário. O pagamento foi feito por ordem alfabética. Por nao atender a reivindicação das atletas, de quitar os dois meses, a equipe optou por não entrar em campo.
Pinheiros ainda teria afirmado que o pagamento do segundo mês só seria feito após o recebimento do depósito que a CBF envia ao clube, referente aos gastos com a logística das viagens da competição.
Até a publicação desta reportagem, as outras atletas ainda não haviam recebido o salário. Às jogadoras, o presidente ainda alegou que estava enfrentando problemas para processar o pagamento pelo PIX. “Ele não tinha uma data pra falar pra nós. E até agora a gente não recebeu nada do salário”, relatou uma fonte que não quis se identificar.
Alimentação precária em viagens
A alimentação foi outro problema que as atletas enfrentaram ao longo da temporada. Quando jogavam fora de casa, elas precisavam bancar a própria alimentação, já que o clube não providenciava alimentos para a equipe.
“A gente, muitas vezes, ficava muito tempo sem comer nada. Se a gente não comprava alguma coisa pra comer, não comia nada até chegar no hotel. Foram poucas vezes que eles deram lanches para nós”, comentou uma jogadora.
Funcionários do clube também estão sem receber; Real Ariquemes culpa CBF
Uma apuração realizada pelo Fut das Minas descobriu que o atraso nos salários do Real Ariquemes vão além do time feminino. O time masculino e funcionários do clube também estão sem receber.
Com relação ao pagamento do elenco feminino e masculino, apuramos que o Real Ariquemes contava com a receita da Copa do Brasil e da Série D do Campeonato Brasileiro.
O clube alega que não recebeu a segunda parcela da cota da participação na Série D da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, por isso, os salários estariam atrasados.
CBF nega falta de repasses
Contatada pela reportagem, a assessoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) respondeu que a entidade não tem gerência em relação aos contratos realizados entre atletas e clubes, e que não acompanha os acordos realizados pelas partes.
A CBF também explicou que só realiza intervenção em clubes, nesse sentido, quando há algum tipo de denúncia, e o contato é feito geralmente por meio da Federação local, responsável direta pelo acompanhamento das equipes em competições nacionais e estaduais.
Por fim, a entidade disse que não procede a informação de que hajam atrasos em repasses das verbas de logística para os clubes e que prefere não se manifestar em relação ao episódio de W.O, que ocorreu na última rodada.
Entenda o caso
As atletas do Real Ariquemes usaram a ausência em campo para cobrar o pagamento dos salários que, segundo elas, estão há dois meses atrasados. O Santos venceu a partida por WO, ficou com os três pontos e vantagem de 3 a 0 no placar.
A partida, que teria início às 15h, não aconteceu. As jogadoras se recusaram a sair do vestiário e só entraram em campo depois de 30 minutos do horário de início da partida vestidas de preto, em protesto. “Nossa briga é pela modalidade. Que as novas gerações possam saber que o futebol feminino tem direitos”, afirmou em entrevista ao Sportv a zagueira do Real Ariquemes, Gabi Lira.
Gostei muito da reportagem , do tom abordado. Precisamos cada vez mais da visibilidade a esse time de situação dentro do futebol feminino, quando eu vejo a tabela de classificação e os jogos que se seguem né da angústia, essas garotas tem sonhos pra elas não é só um esporte , um hobby é o GANHA PÃO DELAS, é o trabalho que sustenta muitas vezes uma família inteira. Não acho justo que esses clubes com menor estrutura disputem um “ Paulistão “ ou “ Brasileirão “ a discrepância de técnica e recursos é gigante em comparação a um time grande da seria A1 , tinha que ter campeonatos diferentes para cada situação e realidade, para que os placares de 7×1 / 5×0 / 10×0 vistos recentemente não se repitam e não desencorajem essas jogadoras que já mostram ter fibra e garra para lutar pelos seus sonhos e objetivos.
E sinceramente acho que a CBF tem que intervim SIM nesses casos, independente de ter denúncia ou não, estamos falando de uma geração de jogadoras, pra mim a instituição que é a CBF existe justamente pra isso para fiscalizar e tornar profissional o esporte.
Sou santista de coração e não me agradei em vê esse tipo de situação mesmo tendo um benefício dos 3 pontos por WO, essas meninas merecem MUITO RESPEITO.