Exclusiva com Duda Sampaio: “não quero só estar, quero títulos”

Se já é difícil para o torcedor lidar com a expectativa para as Olimpíadas de Paris, imagine para uma atleta que está prestes a embarcar para realizar seu sonho de infância. É o caso de Duda Sampaio, meio-campista do Corinthians e da Seleção Brasileira. Aos 23 anos, tem se destacado nos clubes onde joga e construído sua história com a Canarinha.

No dia 15 de julho, dois dias antes de viajar para Bordeaux, onde o Brasil estreará contra a Nigéria, o Fut das Minas entrevistou a jogadora, que estava concentrada na Granja Comary desde o dia 4. Com um semblante tranquilo, mas transparecendo empolgação, Duda falou sobre a preparação para os Jogos Olímpicos, sobre sonhos e sua carreira.

Vivendo e aprendendo: da primeira convocação às Olimpíadas

“Lembro de todo o trabalho, é um momento de realização na minha carreira. Quando a gente olha pra trás, vê o tanto de coisas que a gente já passou e hoje estar aqui e poder disputar as Olimpíadas, pra mim, é o auge como atleta. Ano passado também tive a oportunidade de jogar a Copa do Mundo. De um modo geral minha carreira tem sido muito positiva nesse sentido de resultados individuais, de conquistas.”

Da primeira vez que pisou na Granja Comary até o momento da entrevista, muitos anos se passaram. Naquela época, atuava pelo América-MG e tinha menos de um ano de carreira quando foi convocada para a sub-17.

“Minha carreira começou tarde, quando eu tinha 17 anos, então foi minha primeira convocação e era a última antes do Sul-Americano. Hoje é outra Duda, com certeza. Não só no futebol, mas como pessoa. Eu ainda estava iniciando minha carreira, foi um momento surpreendente, que eu não esperava pelo pouco tempo, mas que desde sempre eu já vi que tinha que trabalhar para chegar aqui mais vezes. Essa primeira convocação me trouxe muito isso.”

Disputa do Sul-Americano Sub-19, em 2019. Foto: reprodução/Instagram

Para além da motivação de vestir a camisa do Brasil, Duda encara o momento como crucial em sua trajetória. Pelo pouco tempo que tinha em campo, ainda não havia desenvolvido tanto sua leitura de jogo e essa experiência fez com que tivesse novos aprendizados na forma de entender o futebol.

“Leitura tática a gente não entendia muito, era mais brincar e ser feliz. E quando eu fui convocada pela primeira vez me trouxe um leque muito grande de coisas que eu precisava melhorar e o quanto era bom viver isso aqui e estar nesse ambiente. É difícil nos clubes você ter uma estrutura boa e, quando se tem, a gente tem que aproveitar ao máximo, como é aqui.”

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Preparação para as Olimpíadas e a confiança em Arthur Elias

“A gente sabe do trabalho do Arthur, às vezes ele faz coisas diferentes, então se a gente tiver com a mente aberta para o que ele passa, temos totais condições de chegar longe. Fundamental vai ser isso, acreditar no trabalho, no que ele nos pede no dia a dia e colocar em prática.”

Foto: CBF

Além das inúmeras conquistas, Arthur é conhecido por fazer escolhas inusitadas, improvisando jogadoras em posições diferentes ou mudando o esquema tático. Sob seu comando, Duda, que tem características fortes de uma meia criadora, também passou a jogar como volante, mas afirmou que se sente confortável e até pegou gosto pela posição.

“Acho que isso ajudou bastante na minha evolução. Hoje me sinto muito bem fazendo papel de volante. Espero que lá na frente a gente possa, cada uma, se sentir bem fazendo diversas coisas porque o intuito é sempre ajudar o Brasil, o coletivo. Todas têm essa mente muito aberta para fazer o que ele pedir.”

A seleção começou a se apresentar no dia 4, mas ficou completa no dia 9, com a chegada das jogadoras que atuam nos Estados Unidos. Esse foi o maior período que Arthur teve com a equipe antes das Olimpíadas e o treinador explicou que, por isso, preferiu usar o tempo para aprimorar o padrão de jogo e fazer ajustes.

Foto: CBF

Por já ter trabalhado com ele quando defendiam o Corinthians, em 2023, a meia não sentiu dificuldade de adaptação. Para ela, o fato de muitas já conhecerem o estilo do comandante ajuda o coletivo, pois elas podem trocar informações no dia a dia, o que ela considera positivo pro crescimento da equipe. Além disso, o fato de muitas já se conhecerem também é importante para o entendimento dentro de campo.

Ao mesmo tempo em que valoriza essas relações, vê que a variedade de times representados agrega no jogo do Brasil, já que “se encaixam”. Para ela, dividir o campo com atletas que atuam na Europa e nos EUA é uma forma de estar motivada.

“Essa questão de jogar fora e no Brasil hoje a gente vê que está muito próximo, antes tínhamos uma barreira muito grande de quem jogava aqui e lá. Acho que isso ajuda muito para nós. Eu, que jogo aqui, é uma alegria poder chegar junto com elas e não sentir fisicamente, nem a parte de jogo. Isso é uma conquista muito grande para nós.”

Foto: CBF.

Sobre o aprimoramento do jogo, Duda destacou a importância de ter padrões e comportamentos definidos, pois facilitam a tomada de decisão na fase ofensiva e defensiva. Ela explicou que essa leitura de jogo é algo que Arthur se preocupou em passar com clareza, pois “é muito importante para a gente saber onde podemos correr mais risco e onde temos que ser mais cautelosas”

“O futebol é muito dinâmico então às vezes o detalhe pode ser uma falta tática que a gente não faz. Isso que engloba os detalhes, estarmos ligadas 100% para sabermos exatamente o que tem que ser feito e não deixar um lance ou outro a desejar e acontecer de tomar um gol.”

A preparação mental e a experiência das veteranas

Ao fazer um balanço sobre as semanas nas Granja Comary, a jogadora destacou também a preparação emocional e os momentos de relaxamento e descontração. Ela entende que a vitória na França começa ainda no Brasil e que estar mentalmente fortalecida pode ser a chave para uma boa campanha.

“Dentro de campo, nada é além do que a cabeça mandar. Então acho que pra mim é muito importante esse momento pra gente buscar o nosso melhor e conseguir extrair o melhor de cada uma. Aí, lá na frente, quando começar a pressão, os jogos e bater a ansiedade, saberemos lidar melhor com isso.” 

Rafaelle, Marta e Adriana, trio experiente do Orlando Pride. Foto: CBF

Ainda nesse tema, Duda apontou a relevância de ter jogadoras experientes no elenco para equilibrar os ânimos e ajudar as mais novas a manter a cabeça no lugar. Lembrou ainda que, dessa vez, os brasileiros estarão olhando somente para o futebol feminino, já que o masculino não se classificou.

“Poder aproveitar a Rafa, que tem uma carreira na Europa, a Marta. Acho que essa experiência ser passada para quem tá chegando tem ajudado bastante também e claro, para dar confiança. O futebol é muito de estar confiante no momento e fazer acontecer. Isso o Arthur nos passa, cada uma olha pro lado e ninguém se cobra no sentido de estar ruim, é sempre uma cobrança para evoluir.”

Um recado para a Duda do passado…

Após analisar o período de treinos e relembrar momentos marcantes da sua trajetória, Duda deixou um recado importante para sua versão do passado.

“Parar para pensar assim, olhar para trás e realmente valeu muito a pena. Das coisas que mais sofri foi sair de casa, então hoje quando olho meus pais e o orgulho que eles sentem de mim, toda minha família que me apoiou muito para realizar esse sonho. Acho que esse é o maior recado: olhar para trás e deixar as pessoas orgulhosas, as pessoas próximas a mim. E claro, continuar conquistando. Estou num momento muito bom, mas não quero só estar, agora é conquistar mesmo, voltar com títulos e medalhas.”

Duda com sua família após a conquista do Brasileirão A1 em 2023. Foto: reprodução/Instagram.
Advogada, jornalista, carioca e apaixonada por música, anime e, claro, pelo futebol de mulheres. Cubro a modalidade desde 2020 e aqui no Fut das Minas desde o início de 2024. Nunca é só futebol!
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