A sina do “podia ter sido”

Por: Amanda Porfirio

Antes da copa, logo depois da definição dos grupos, já se sabia que a Austrália era uma pedra no sapato do Brasil.  A última vez que o Brasil venceu uma partida contra a Austrália foi em julho de 2016. Depois disso, foram quatro derrotas consecutivas em amistosos. Dos últimos 10 jogos, incluindo o de ontem, foram 2 vitórias do Brasil, 1 empate e 7 vitórias australianas.  Foi da Austrália também que veio a eliminação brasileira na última copa, nas oitavas de final.

Mas, apesar disso, ontem o jogo começou diferente. Uma seleção montada em 4-1-4-1, com o retorno da Marta após lesão, mostrava um brasil melhor articulado e minimizando erros dos últimos jogos. Na primeira etapa a seleção entrou controlando a Austrália, abrindo o placar com gol de pênalti da Marta, que atingiu recordes importantes na partida, e ampliando em uma jogada bem acertada de Tamires e Debinha, que terminou no cabeceio perfeito da artilheira Cristiane pra dentro do gol adversário.

Ainda no fim do primeiro tempo, a Austrália marca um gol e respira. O intervalo literalmente dividiu o jogo em dois momentos. A Austrália volta com fogo nos olhos e a missão de virar o jogo. E o Brasil volta com o Vadão de antes, que substitui Marta e Formiga, por Ludmila e Luana, respectivamente, e fez a cabeça da gente bagunçar se perguntando o porquê. Marta a gente sabia que não tinha condições de jogar os 90 minutos. Mas porque tirar formiga no início da segunda etapa? Além da nossa cabeça, a seleção brasileira também bagunçou em campo. Uma chuva de erros fez a gente relembrar o modelo Vadão de sempre, em seus piores pontos negativos. Erros em passes, posicionamentos e marcações, foram prato cheio pra Austrália virar o jogo em menos de 20 minutos, com direito a gol contra da zagueira Mônica. A saída da Cristiane para entrada da Bia Zaneratto, que já não tinha sido tão bem no último jogo, contribuiu ainda mais com a má adaptação a situação que estávamos enfrentando.

A goleira Bárbara em certo momento, resmungava repetidamente: “duas em uma bola, duas em uma bola! ”. Eu não sei se ela tava reclamando ou pedindo. Mas em alguns momentos vimos 4 jogadoras em uma bola só. E vocês sabem, né? Quando se concentra marcação em um lugar só, fica um monte de espaço vazio, que pode ser traduzido em oportunidade pra equipe adversária. E assim foi! Austrália soube aproveitar as oportunidades, e se tivesse em um melhor momento (porque as australianas não estão jogando tão bem quanto podem), sairíamos talvez com um saldo mais negativo. Ainda tivemos o VAR contribuindo diretamente com a derrota, não marcando um pênalti legítimo em cima da Andressa Alves no finzinho do jogo. Uma pena!

O fato é que esperávamos perder, mas vivemos a sensação de ter o jogo em mãos e errar o suficiente para vê-lo ser desmontado por uma de nossas maiores rivais. Não dá pra falhar em copa do mundo. Não dá pra defender Vadão, mas também não dá pra transferir a culpa só pra ele. Primeiro que Vadão estava errado quando cansava de repetir há tempos atrás, que dava pra corrigir os erros fruto de 9 derrotas consecutivas em um período de 15 dias de preparação. Claramente estamos vendo que não deu! Segundo, as jogadoras precisam entrar melhor no jogo, (ainda que tenham falhas técnicas de colocá-las em posições onde são mal aproveitadas), algumas cometem erros básicos que acabam comprometendo nossa situação em campo.

E terceiro, mas não menos importante. Precisamos que a seleção foque no próximo jogo e tenha equilíbrio emocional nesse momento crítico. A Itália é uma adversária forte e vai precisar de todas as nossas atenções. A torcida vai continuar mandando forças daqui e mostrando que é possível sim virar o jogo. E que a sina do “podia ter sido”, torne-se o: foi! Aconteceu!

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.
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