OPINIÃO: Confiança é a palavra-chave do Brasil de Pia

Foto: Thaís Magalhães

Se em 2019 o Brasil chegou à Copa do Mundo com nove derrotas consecutivas e questionada em todos os sentidos, em 2023 o cenário é outro. A proposta de renovação e as boas atuações após a eliminação nos Jogos Olímpicos embalaram um discurso de confiança que tomou conta do time brasileiro.

Faltando 17 dias para a estreia no Mundial, as escolhidas por Pia Sundhage já iniciaram a preparação na Austrália após se despedirem da torcida brasileira com vitória por 4 a 0 sobre o Chile, com o público de 15.892 presentes no Mané Garrincha, em Brasília. 

Rafaelle, Tamires e Debinha após a vitória por 4 a 0 diante do Chile, no Mané Garrincha. Foto: Thaís Magalhães

Além da despedida da torcida, o jogo serviu para que Pia fizesse alguns testes na equipe. Na defesa, nenhuma surpresa, Letícia, Antonia, Kathellen, Rafaelle e Tamires devem ser as titulares no setor defensivo. 

Poupando as jogadoras que atuam nos Estados Unidos, exceto Marta e Kerolin, que entraram no segundo tempo, a treinadora entrou com o meio composto por Luana, Duda Sampaio, Ana Vitória e Geyse e deu chances para Nycole e Gabi Nunes como dupla no ataque.

Mas além do esquema tático ou da escolha das jogadoras, a seleção de Pia passou a carregar um discurso de confiança para a Copa do Mundo, muito devido às últimas atuações diante da Inglaterra, na Finalíssima, no amistoso contra a Alemanha, e agora na despedida diante do Chile. 

Seleção Brasileira reunida após vitória por 4 a 0 contra o Chile, no Mané Garrincha. Foto: Thaís Magalhães

O último adversário, claramente, ofereceu pouca dificuldade ao Brasil, mas o time se comportou bem tanto na defesa quanto no ataque, como era de se esperar, e a atuação foi comemorada pela técnica Pia Sundhage: “É um bom momento para ter bons resultados. Nos dá confiança ver os jogos contra Inglaterra e Alemanha. Hoje, jogamos contra um time [Chile] bem diferente”. 

Grupo renovado e confiante 

Desde quando a treinadora assumiu o comando da seleção, em 2019, aos poucos, o discurso de renovação – papel que conseguiu desempenhar bem na seleção – se transformou em um discurso de confiança pré-Copa do Mundo.

A frustração da eliminação para o Canadá nas Olimpíadas fez a treinadora assumir os erros e repensar todo o ciclo para a Copa do Mundo. “Desculpem por não termos chegado à semifinal. Tenho que voltar para casa e fazer meu dever de casa para fazermos melhor da próxima vez”, disse a treinadora na época. 

O dever de casa de Pia começou a surtir efeito na campanha invicta com o título da Copa América de 2022 e os dez jogos de invencibilidade da equipe brasileira, que levaram a comandante, inclusive, a ser indicada à premiação de melhor treinadora do mundo pela FIFA, ficando na terceira colocação.

Depois disso, a seleção voltou a oscilar na She Believes Cup, perdendo para Canadá (2 a 0) e Estados Unidos (2 a 1), e vencendo apenas o Japão por 1 a 0. Durante toda a competição, a equipe mostrou pouco repertório técnico e fez um jogo muito abaixo contra o Canadá, principalmente. E, apesar da derrota contra os Estados Unidos, a primeira etapa do duelo foi o único momento do torneio em que a seleção conseguiu apresentar um bom futebol, com destaque para a atuação individual de Bia Zaneratto.

Bia Zaneratto em disputa de bola no jogo contra os Estados Unidos, na She Believes Cup. Foto: Thaís Magalhães

Mesmo diante do mau desempenho na She Believes, na Data FIFA de abril foi possível perceber uma seleção mais madura coletivamente, principalmente em jogos com seleções favoritas ao título da Copa do Mundo, como Inglaterra e Alemanha. A vitória por 2 a 1, na casa das alemãs, mostrou a força da renovação da Seleção Brasileira, com Ary Borges e Kerolin dominando o meio-campo da partida. 

Após a vitória, a comandante exaltou a partida da equipe brasileira: “Acho que esse jogo foi um dos melhores que nós fizemos. E também uma parte do jogo contra a Inglaterra […] Considerando que fizemos isso jogando contra dois dos melhores times da Europa, não só com desempenho, mas também com essa vitória, isso nos dá mais confiança, inclusive para mim mesma”, disse a sueca.

Um só sentimento 

O discurso confiante da treinadora não fica restrito só a comissão, a meia Ary Borges também falou sobre a sensação após o jogo diante das alemãs: “A gente está muito confiante, porque sentimos que conseguimos competir com grandes equipes e toda hora estamos jogando contra grandes equipes”, comemorou Ary.

Ary Borges, Kerolin e Gabi Nunes comemorando o segundo gol da seleção brasileira contra a Alemanha. Foto: Thaís Magalhães

“A nossa expectativa para a Copa do Mundo sempre foi positiva, independentemente dos resultados recentes. A gente não pode se basear em uma Data Fifa, estamos em um trabalho crescente que vem sendo feito há anos com a Pia e sua comissão, com as atletas, todas acertando, errando e querendo evoluir”,  relatou Tamires, uma das capitãs da seleção brasileira. 

Depois da vitória contra o Chile, Pia voltou a ser perguntada sobre essa confiança e sobre a pressão de levar o Brasil ao primeiro título mundial. “Não gosto da palavra pressão quando usada em um sentido negativo. Mas no sentido competitivo, é algo necessário. Acho que a palavra certa é alegria. Acho que a chave de tudo é confiança”, destacou a técnica.

Seleção Brasileira comemorando após vitória por 4 a 0 contra o Chile, no Mané Garrincha. Foto: Thaís Magalhães

Os resultados expressivos não só aumentaram a sensação de confiança das jogadoras, mas também fizeram com que o Brasil subisse uma posição no último ranking divulgado pela FIFA. A seleção brasileira chegou à 8ª colocação e Pia falou sobre as chances de vencer o Mundial estando entre as principais seleções do mundo.

“Todos os dez melhores times podem ganhar a Copa do Mundo. Se estivermos saudáveis e com um pouco de sorte, tudo pode acontecer lá. Ninguém vai tirar nosso sonho. E vamos sonhar”, completou a comandante. 

Mesmo com críticas à Pia após a convocação da goleira Bárbara e da zagueira Mônica para a Copa do Mundo, já que ambas ficaram fora do ciclo para o Mundial, o grupo escolhido pela treinadora parece caminhar na mesma direção proposta pela comissão brasileira e reflete no dia a dia esse discurso de confiança rumo ao Mundial. 

Na contramão de seleções como Espanha, Canadá e África do Sul, que enfrentam problemas extracampo com federações ou comissões técnicas, por exemplo, a posição adotada pela seleção brasileira faz acreditar que desta vez a história pode ser diferente. 

Caminho do Brasil

O Brasil está no Grupo F da Copa do Mundo, ao lado de França, Jamaica e Panamá. Na primeira fase, a Seleção Brasileira estreia diante do Panamá, no dia 24 de julho, às 8h (horário de Brasília), no Hindmarsh Stadium (Adelaide).

Pela segunda rodada, no dia 29, enfrenta a França, às 7h (horário de Brasília), no Brisbane Stadium (Brisbane) e fecha a primeira fase no dia 02 de agosto, contra a Jamaica, às 7h (horário de Brasília), no Melbourne Rectangular (Melbourne). Todos os jogos terão transmissão ao vivo pela Globo, Sportv e Cazé TV. 

Jornalista. Do campo, quadra e areia, encontrei no jornalismo a junção de duas paixões, o esporte e a comunicação. No Fut das Minas, a missão mais importante: escrever sobre o protagonismo das mulheres no futebol e no mundo. Comentarista às vezes. Palpiteira sempre.
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