Almanaque Brasileirão 2020 A1: Cruzeiro

O Fut das Minas inicia hoje uma série de entrevistas com dirigentes de Futebol Feminino dos clubes que irão disputar o Brasileirão Série A1 em 2020. A primeira entrevistada é a Bárbara Fonseca, Coordenadora de Futebol Feminino do Cruzeiro, única equipe mineira na elite do Brasileiro.

Bárbara Fonseca com a taça do Campeonato Mineiro 2019. Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro 

Bárbara é ex jogadora e tem larga experiência com gestão em Futebol, tendo passado inclusive pelo América (também mineiro). Contratada tardiamente pelo Cruzeiro em 2019, tinha o desafio de em pouco mais de um mês estruturar uma equipe que estivesse pronta para disputar a série A2 do Brasileiro. O objetivo era alcançar o acesso para a elite da competição. As cabulosas não apenas conseguiram o feito, mas chegaram a disputar a final e ficar com o vice-campeonato. Além disso, a equipe também venceu o Campeonato Mineiro, derrotando o então campeão de 2018, América-MG.

Para 2020 as cabulosas chegam com o desafio de manter a característica competitiva em um cenário com adversárias mais fortes, com a dificuldade de um clube que enfrentou a queda para a série B no Futebol Masculino. Nesta entrevista exclusiva, Bárbara avalia o ano de 2018 e fala sobre os próximos desafios e o planejamento do clube para a próxima temporada.

 

Fut das Minas – Bárbara, o projeto do Futebol Feminino no Cruzeiro é recente, mas ainda assim a equipe conseguiu alcançar posições de destaque. Vice na série A2 e campeãs no Mineiro. Como você avalia o ano do cruzeiro? 

Bom, a gente não pode pensar diferente nas circunstâncias que a equipe foi montada, que o saldo é positivo.  O cruzeiro perdeu um pouco o timing, né? Tardiamente decidiu ter sua própria equipe. E no momento que eu vou no mercado, algumas atletas já estão com compromisso firmado com outros clubes. Então a gente teve que em pouco tempo buscar outros recursos, outras informações. O certo é que tomamos, graças a Deus, 23 decisões de maneira correta. Tivemos um mês de trabalho, da apresentação até a estreia contra o Taubaté-SP, que infelizmente foi com derrota, mas tivemos a maturidade para entender que era uma questão de ajustes. Dentro da minha gestão eu sempre pauto que devemos saber onde queremos chegar. Tínhamos como objetivo ser campeãs do Campeonato Mineiro. Pelo tanto que trabalhamos no ano, entendíamos que era possível buscar esse título para coroar a presença massante da torcida que nos acompanhou durante todo o Campeonato Brasileiro. O nosso objetivo no Brasileiro A2 era subir, ficar entre os quatro. Avançamos um pouco mais e chegamos até a final. Então o saldo é muito positivo. Só temos a agradecer, da diretoria do Cruzeiro à todo o Staff, o administrativo que sempre esteve com a gente, a torcida, o apoio da imprensa. Só foi possível avançar da forma que avançamos com a ajuda de todos. 

Fut das Minas – Em 2020 o desafio é ainda maior. Série A1, times com maior qualidade e competitividade acima do que vocês enfrentaram.  Quais são as metas da equipe na competição? 

Temos que ter muita cautela para falar da primeira divisão. É um cenário que eu desconheço, nunca disputei enquanto gestora. Minha comissão técnica pela primeira vez vai pisar nesse terreno. Então estamos indo com muita calma, avaliando e já planejando  como vamos fazer essa mudança de chave quando retomarmos as atividades no dia 6 de Janeiro, principalmente nessas atletas que renovamos. Desconhecer a primeira divisão nos trouxe a preocupação de trazer atletas que tenham vivenciado essa competição, para que pudessem dar essa cancha para a equipe como todo, né? É importante termos ao lado atletas que participaram, que já viveram e que sabem talvez o caminho. Traçar metas nesse momento é um pouco mais delicado, porque se era possível traçar metas em duas competições que eu conhecia, que era a A2 e o Campeonato Mineiro, definir metas no que a gente desconhece é bem arriscado. Mas de alguma maneira o que temos em mente é deixar o Cruzeiro na primeira divisão. É o que esse clube e a camisa pede. Não pode ser diferente disso. Estamos planejando, fazendo todos os ajustes de uma maneira muito centrada e pensada, como foi também no início deste ano. Talvez agora com mais tempo e com uma tranquilidade maior para se pensar e planejar. Mas estamos tendo muito cuidado para que consigamos no primeiro momento alcançar essa meta que é permanecer na primeira divisão. E o Campeonato Mineiro acho que é consequência do bom trabalho que a gente fizer no primeiro semestre. 

Fut das Minas – Falando em 2020, alguns nomes já deixaram o clube e outros foram renovados. Em relação ao planejamento de elenco, o que os torcedores podem esperar? Já pode adiantar algum nome específico? 

O torcedor sabe: todo final de temporada o clube entra em um processo de reformulação. Desde setembro eu e a comissão técnica estamos avaliando o mercado, já entendendo quais atletas tem a cara do cruzeiro, e quais estão preparadas para representar essa camisa em um grande desafio que vai ser a primeira divisão. Então nos preocupamos com isso, trazer atletas que já tivessem a experiência da primeira divisão e de competições de mais alto nível. É isso que estamos tentando fazer. É claro que o mercado inflacionou demais e tá muito difícil. As atletas estão com muitas opções e condições de escolher, o que dificulta o mercado pela alta na valorização. O que a torcida tem que entender é que estamos fazendo novamente um bom trabalho. É claro que 2020 é um grande desafio. Tudo que está sendo feito é objetivando deixar o cruzeiro na primeira divisão. O torcedor pode ficar tranquilo que luta não vai faltar.

Fut das Minas – Há também algum planejamento estratégico para atrair os torcedores também para a equipe feminina, seja em marketing ou outras ações? 

Já há um planejamento estratégico, ele está em execução desde que o Cruzeiro decidiu ter sua equipe. É tanto que a gente consegue colocar torcedores em todos os jogos, uma presença bem importante. O torcedor do cruzeiro está consumindo futebol feminino. Isso faz parte de um planejamento estratégico de todo o corpo administrativo do clube, de vários outros setores também, não só de marketing. Por exemplo, a nossa assessoria de imprensa está sempre atuante, informando, transmitindo conteúdo, e isso só é possível porque entenderam que o Futebol Feminino está sendo consumido. Então o planejamento já existe e vai continuar. A primeira divisão nos empodera e nos dá uma condição de maior visibilidade. Eu tenho certeza que a todo o momento o Cruzeiro vai trabalhar para que cada vez mais o nome do Futebol Feminino esteja em crescimento. 

Cabulosas após a conquista do Campeonato Mineiro 2019. Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro 

Fut das Minas – Você acredita que o decesso da equipe masculina possa prejudicar a equipe feminina de alguma maneira? 

Ah, obviamente. A gente não pode ser hipócrita em achar que o Futebol Feminino não dependa do masculino. São os caras que ainda pagam a conta. É claro que trabalhamos com o objetivo de tornar a coisa independente, para que a modalidade chegue em um processo de se pagar, e a médio prazo conseguir trazer lucros e receitas para o clube. Mas por enquanto a realidade é essa, é o Futebol Masculino que paga a conta do feminino, e quando o masculino passa por esse processo que tá sendo o caso da nossa equipe no Cruzeiro, obviamente que a gente sente, né? Há uma questão de problema de receita no clube como um todo. Mas vamos saber sair dessa situação, trabalhar para se adequar a esse momento do Cruzeiro, e eu tenho certeza que no final de 2020 vamos estar falando novamente dos sucessos que essa equipe conseguiu ter. Não só a feminina, mas o clube como um todo. 

Fut das Minas – No dia 14 de dezembro você escreveu o seguinte post no twitter. 

“Esse Clube nos deu o chão, a torcida foi o nossos pés, a camisa nos deu a força, o respeito. Não será dentro do departamento feminino q irão desrespeitar o Cruzeiro, independente de como ele esteja, continuará sendo Gigante pra mim é para mais de 9 milhões de torcedores.”

Poderia explicar a que exatamente isso se refere?

Eu sempre tracei alguns princípios dentro do meu grupo de trabalho e sempre falei da preservação dos valores éticos e morais. Essa é a grande diferença, talvez, do Futebol Feminino para o Masculino. A gente ainda tem esses valores, e eu percebo que no Futebol Masculino isso se perdeu. Então eu sou muito da questão de preservar, para que a gente não caia nesse problema, né? De ser um consenso de que ninguém faz mais nada por amor a uma camisa ou ao clube, só se faz por dinheiro. Eu acho que as coisas podem caminhar juntas. Então como eu sempre prezei isso, ao tomar conhecimento que o empresário do nosso ex treinador estava indo no mercado oferecendo o profissional. Inclusive chegou a oferecer ele para o Atlético Mineiro, e em uma conversa com o treinador ele não se mostrou arrependido daquela decisão, eu achei que não cabia, que não tinha mais espaço e que a relação de confiança foi cortada. E ainda pesa o fato da gente saber que 2020 será um ano muito difícil. Vai ter que ser aquele ano de olho no olho, de mãos dadas, ninguém larga a mão de ninguém, e logo o comandante estava pulando do barco. Então eu não podia ter tomado uma decisão diferente. Não podemos entender como normal o que ele fez. Enquanto eu estiver na gestão do Futebol Feminino do Cruzeiro, ou em qualquer gestão que eu assuma, sempre vou batalhar pela preservação desses valores. Ninguém enquanto eu estiver no Departamento de Futebol Feminino vai desrespeitar o Cruzeiro. Eu achei muito desrespeito. Minha resposta foi sem direcionamento, mas para aqueles que estão envolvidos e que verbalizaram ofensas contra a minha pessoa, tomassem conhecimento que o que eu estava fazendo ali era apenas defender o clube no qual nos permitiu chegar onde chegamos. 

Nota: Entramos em contato com o ex técnico do Cruzeiro, Hoffman Túlio, para conceder o espaço caso quisesse se manifestar sobre o episódio de saída do clube. O mesmo nos informou via redes sociais que preferia não comentar sobre o caso.  

Informações e mudanças no Elenco

O Cruzeiro estreia no Campeonato Brasileiro no dia 09 de Fevereiro contra o São Paulo. O jogo acontece em Minas Gerais, ainda sem local e horários definidos. Além do Técnico Hoffman Túlio, se despediram das cabulosas as laterais Mariana Dantas e Isa Leone, as Goleiras Renatinha e Mika, a Zagueira Lia, e as meias  Thayane, Karol e Pâmela. Em contrapartida renovaram com o Celeste as atletas: Camila, Janaína, Eskerdinha, Jajá, Pires, Isabela, Micaelly, Vanessinha, Miriã, Kim e a grande destaque Duda. Sobre novas contratações, oficialmente nada foi divulgado pelo clube.

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.