Faltando menos de 15 dias para a estreia da Seleção Brasileira Feminina nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Arthur Elias segue preparando as 18 atletas e 4 suplentes que convocou para o torneio. O técnico da amarelinha levou mais oito atletas para o início de preparação na Granja Comary, em Teresópolis, e tem feito testes em diferentes posições. Ao todo, trabalha diariamente com 30 atletas até a viagem para a França, no dia 17 deste mês.
Arthur Elias chegou há 10 meses para comandar a seleção brasileira e montou um time base ao longo dos 15 jogos à frente da seleção. O treinador testou 51 atletas e teve boas respostas nas disputas da Copa Ouro e na She Believes Cup, os primeiros torneios pela seleção.
Para os Jogos Olímpicos, o treinador convocou uma lista com algumas surpresas e as ausências de Cristiane e Debinha. Quando em dúvida, Arthur optou por atletas conhecidas, de sua confiança, como Tainá Borges e Jheniffer, que foram comandadas pelo técnico no Corinthians.
Preparação na Granja Comary
Arthur Elias e comissão iniciaram a preparação para os Jogos Olímpicos sem cinco jogadoras que atuam na liga americana de futebol feminino, a NWSL. Por isso, Arthur iniciou treinos de 1×1 no campo de ataque e também fez exercícios de ataque contra defesa, testando formações. De um lado, Duda Sampaio e Ana Vitória defendiam, enquanto Yaya, Portilho e Jheniffer (variando com Luany) atacavam.
Depois, a formação inverteu e, Jheni, Portilho e Luany defendiam. Um ponto interessante dos primeiros dias de treinamento foi ver Yaya sempre avançada, na função de criação. A meio-campista, que atua ao lado de Duda Sampaio no Corinthians, deve reeditar a dupla no time titular dos jogos.
Do outro lado do campo, Tamires, Vitória Calhau e Emily defendiam, enquanto Thais, Yasmim e Letícia Monteiro atacavam. Antônia também entrava nessa variação. A defensora, que pode fazer tanto a lateral quanto a zaga, é uma peça essencial no esquema de Arthur. Independente da posição, Antonia entrega uma versatilidade importante para um torneio de tiro curto como as Olimpíadas.
Entre as goleiras, posição que também deixou dúvidas na cabeça de Arthur, Lorena e Tainá foram as escolhidas para a lista oficial dos Jogos Olímpicos. Luciana, goleira experiente da Ferroviária, entrou na lista de suplentes. Já Natascha, atleta do Palmeiras, foi convocada pelo treinador para o período de treinamento pré-olímpico.
Grupo completo e time ideal
Com a chegada de Marta, Adriana, Rafaelle, Angelina e Kerolin nesta terça-feira (09), todas as 18 convocadas para a lista principal das Olimpíadas já estão presentes na Granja Comary. Sendo assim, Arthur iniciou uma nova fase na preparação, podendo montar e treinar o time completo que imagina como titular para os Jogos Olímpicos.
Ainda que o treinador reforce a ideia de ‘não ter formação tática’ ideal para o elenco e sim um modelo de jogo, o técnico deve manter aquilo que considerou funcionar no vice-campeonato da Copa Ouro e no 3º lugar da She Believes Cup deste ano, com um time ofensivo, atuando com três zagueiras e duas jogadoras de velocidade na ponta.
Em situações adversas, esse modelo pode variar, já avisou o treinador, podendo jogar com quatro defensoras, ou até mesmo uma linha de cinco defensiva, com três zagueiras e duas laterais abertas, como Antônia e Tamires (ou Yasmim).
No entanto, se optar pela ofensividade, os lados de campo podem ser ocupados por duas atacantes rápidas, como Ludmila e Gabi Portilho, por exemplo, ou até mesmo Adriana, que pode jogar tanto como meia-atacante quanto como ponta extrema.
Mudança de mentalidade
Desde que chegou para comandar a seleção, Arthur Elias foi moldando o discurso diante de tantas perguntas em relação à chance do Brasil em Paris. Na primeira convocação, Arthur rechaçou a ideia de que a seleção brasileira não está entre as melhores seleções do mundo.
“Aqui vocês não vão mais escutar falar que tem alguém mais preparado que a seleção brasileira. Isso da minha boca não vai sair e espero que não saia na de mais ninguém daqui. Dentro de campo, a seleção brasileira compete com qualquer seleção do mundo, não tenho dúvida nenhuma”, disse o treinador.
Depois dos primeiros jogos à frente da seleção e do sorteio dos grupos das Olímpiadas, o técnico passou a olhar com mais cautela para os adversários dos Jogos Olímpicos, elencando-os com os mais fortes de cada pote do sorteio.
“A gente entende a Espanha como uma equipe muito forte, recentemente campeã do mundo. O próprio Japão ganhou da Espanha [na Copa do Mundo]. Precisa ser pensado jogo a jogo pelo grau de dificuldade alto que vamos enfrentar. E estamos nos preparando”. Ainda assim, o discurso otimista em relação a uma conquista de medalha, mesmo que de forma mais tímida, tem contagiado as atletas de modo geral.
Não raramente, em entrevistas, algumas jogadoras convocadas por Arthur têm citado a confiança passada pelo treinador durante todos os testes. Apesar de adversários complicados na primeira fase, e com a seleção brasileira em um nível ainda abaixo da primeira prateleira do futebol feminino, o treinador e a comissão têm deixado claro a confiança no grupo e na possibilidade de vencer os Jogos Olímpicos.
“Eu acredito muito que a gente vai fazer uma grande Olimpíada. Como eu tenho falado desde o começo, é passo a passo, chegar e colocar o Brasil de volta onde a seleção feminina merece”, disse o treinador após a conquista do 3º lugar na Copa Ouro.
O discurso, ainda que mais motivacional, tem como base blindar o mental das jogadoras e diminuir o desgaste emocional causado em momentos de pressão. É fato que isso só funciona se todos estiverem na mesma sintonia, mas convencer as atletas disso já é um passo enorme para a vitória.
“As atletas sentem confiança quando o professor e sua comissão técnica estão confiantes em seu trabalho. O Arthur é um técnico muito vitorioso, todas nós aqui sabemos desse histórico dele, que traz para o grupo esse espírito vitorioso. E ele em todas as convocações consegue passar esse pensamento, esse sentimento para as jogadoras”, comentou Tamires, em entrevista à CBF TV.
Qual a chance da Seleção Brasileira nesses Jogos Olímpicos?
A eliminação precoce na Copa do Mundo de 2023 ainda ressoa nos treinos, jogos e entrevistas e, claramente, se tornou um episódio a ser superado por atletas e torcida. E somente uma grande atuação nos Jogos Olímpicos seria capaz disso. Se formos analisar friamente pelos adversários da 1ª fase, o Brasil teria que vencer seleções que nos últimos anos alcançaram um patamar igual ou quase acima da nossa seleção.
Se pensarmos que a Nigéria será um adversário fácil, podemos correr o risco de perdemos na nossa própria soberba. Vale lembrar que para a grande maioria, a Jamaica também era. Com um ataque poderoso e grandes jogadoras como Oshoala, Ajibade e Kanu, a Nigéria despachou o Canadá na fase de grupos na última Copa do Mundo e se classificou em 2º lugar no grupo da Austrália, com direito a uma vitória de virada por 3 a 2 sobre as donas da casa.
As Nadeshiko não ficam para trás, e pior, tendem a ser o adversário direto do Brasil pelo segundo lugar no grupo. Olhando a tabela de jogos, enfrentaremos as japonesas podendo já nos classificar ou sermos eliminadas da competição. Ou seja, tudo pode acontecer. Nos últimos amistosos contra elas, vencemos uma e perdemos outra, jogando no limite.
A vitória veio de virada por 4×3 nos últimos minutos e derrota foi por 2×0 em um jogo que não vimos a cor da bola, ambos dentro da nossa casa. Na She Believes Cup, empate em 1×1 e Lorena brilhando nos pênaltis. Portanto, em uma rápida análise, o principal jogo da primeira fase pode e deve ser o segundo. Tiro curto, sobrevida ainda mais.
Agora sim, precisamos mesmo falar da Espanha? Atual campeã do mundo vencendo a favorita Inglaterra de Sarina Wiegmann, elenco recheado de estrelas e com a atual melhor do mundo, Aitana Bonmati, e a que foi por dois anos a melhor, Alexia Putellas. Ainda tem Hermoso, Guijarro, Salma Paralluelo, Olga, Athenea… Fora as defensoras, Paredes, Ona Battle e a jovem e promissora Laia Aleixandri. Sem dúvidas, será o jogo mais difícil da chave e esperamos já estar com a classificação resolvida antes dele.
Em entrevista ao Canal GOAT, Arthur Elias disse que a seleção tem dois planos para o jogo contra Espanha, e imagino que muito dependendo das situações dos times para a última rodada. Bom, é melhor termos mesmo, porque elas vão ter.
Mas sempre dá para acreditar – e o Canadá de 2021 que o diga. Time longe dos holofotes que foi chegando, se ajustando, e conquistou o ouro inédito em Jogos Olímpicos. É verdade que o Canadá já vinha batendo na trave e foi bronze em Londres 2012 e Rio 2016, mas em Tóquio, o favoritismo do Brasil nas quartas, dos Estados Unidos na semi e o da Suécia na final não passaram de projeções. Com um grupo unido, uma ídola em despedida e uma técnica recente, o Canadá soube jogar e ganhar os Jogos Olímpicos. Bons sinais.
Calendário da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos
O Brasil está no Grupo C dos Jogos Olímpicos e vai estrear contra a Nigéria, dia 25 de julho, em Bordeaux, às 14h*. Na segunda rodada, enfrenta o Japão, dia 28, às 12h*, em Paris, e fecha a primeira fase contra a atual campeã do mundo, a Espanha, no dia 31, às 12h*, em Bordeaux.
*horários de Brasília.
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