Cidadezinha do interior, campinho de barro e bate bola entre os meninos da vizinhança. A história da atual camisa 10 da Seleção Brasileira Sub-20 não é tão diferente da de tantas outras atletas espalhadas pelo Brasil. Porém, Maria Eduarda, ou “Duda” como é conhecida dentro de campo, tem particularidades que deixam claro o que a fez em tão pouco tempo trocar a camisa do time de Jequeri-MG, para as do Cruzeiro-MG e da Seleção Brasileira de Futebol.
“Eu demorei para entender que o futebol seria minha carreira, sempre tive como uma diversão, e até quando eu fiz o meu primeiro teste no América-MG, ainda tava com isso na cabeça, que era uma diversão, que eu só queria jogar”
Com 19 anos de idade e um título Sul-Americano, um vice Brasileiro na A2 e três títulos mineiros na bagagem, Duda tem experiência de sobra, dentro e fora de campo. A menina tímida do interior de Minas precisou desde cedo assumir decisões e responsabilidades de gente grande. Foco, determinação e a busca pelo sonho, trouxeram Duda para o centro da elite do Futebol Feminino no Brasil. E segundo ela mesma, sem a ajuda da família nada disso seria possível. “Eu comecei a ir para o campo quando comecei a andar. Meu pai me levava para ver os jogos em frente de casa, então foi ali que foi nascendo essa paixão”, conta.
Se para assistir os jogos de futebol só lhe bastou começar a andar, não demorou muito para que o pai da Duda a incentivasse no contato com a bola. “Quando eu cresci mais um pouco o meu pai já me colocou pra jogar com os meninos. Uma coisa legal é que meus primos e meu irmão também faziam parte do time, então o incentivo vinha de toda família”, revela Eduarda ressaltando a importância desse apoio para carreira. “Se não fosse minha família, isso tudo com certeza não seria possível”.
Com o apoio da família e da vizinhança que se reunia no campo do bairro, Duda passou a integrar o time local. Entre os 15 e 16 anos já fazia parte da base do Boa Sorte, principal equipe da cidade. Lá pôde desenvolver suas habilidades e se preparar melhor para as oportunidades que a esperavam mais a frente.
As portas para a profissionalização
Aos 17 anos veio a chance de fazer o primeiro teste em um clube de expressão, e também a necessidade de deixar a cidade onde cresceu. “O América-MG foi a minha primeira grande oportunidade. Fiquei lá uns seis meses em período de testes, e uma das principais dificuldades foi ficar longe da família. Mas pude contar com meus tios que moravam em BH e disponibilizaram a hospedagem. Como o América não tinha alojamento e treinávamos todos os dias à noite, meu tio sempre me levava e ficava esperando o treino terminar para voltarmos”, descreve.
Foi no tricolor mineiro que a meia-campista teve pela primeira vez a chance de integrar uma equipe feminina e disputar competições oficiais. Em 2017 e 2018, Duda esteve no elenco campeão do América-MG, que até então, acumulava três campeonatos seguidos. A craque chamou tanta atenção, que foi contratada pelo rival Cruzeiro, em uma aposta de elenco que levaria a raposa à elite do Brasileiro Feminino.
Nasce uma cabulosa
O ano de 2019 foi uma virada de página tanto para Duda, que mudou de equipe, como também para o Cruzeiro e tantos outros clubes da série A, que precisaram adequar-se à determinação da Conmebol e implementar uma equipe feminina no seu elenco. No caso das cabulosas, nomenclatura dada pela torcida às jogadoras do Cruzeiro, a vantagem veio das arquibancadas. Segundo Duda, o apoio da torcida fez a diferença. “Desde quando cheguei no Cruzeiro a torcida abraçou o Futebol Feminino. Esse foi o principal ponto que nos aproximou. Entregávamos tudo em campo para ser uma equipe competitiva, e acredito que isso que fez a torcida procurar vir ao estádio e assistir os jogos”, revela.
No ano passado o Cruzeiro contou com a ajuda da Duda para chegar à final da série A2, terminando como vice-campeão diante do São Paulo. Além disso, a equipe também foi campeã mineira vencendo o América-MG, e quebrando a hegemonia do adversário na competição. A meia-campista foi artilheira do clube na temporada, com 14 gols, e chamou a atenção do técnico Jonas Urias, da Seleção Brasileira Sub-20, que a convocou pela primeira vez para um período de treinos.
“A seleção pra mim é um sonho sendo realizado, como qualquer atleta quer estar na seleção, não seria diferente comigo.”
Na seleção Duda não só agradou, como também conquistou o sonho de vestir a camisa 10, a mais importante da equipe. A liderança e o seu talentoso futebol contribuíram para garantir ao Brasil o título de campeão na liga Sul-Americana no início do ano. A craque mineira foi vice-artilheira da competição, anotando seis gols em quatro jogos. Para ela, estar na seleção é um prêmio. “Eu tô muito feliz de estar fazendo parte disso. Comecei de baixo, batalhei muito no dia a dia, com muita humildade. Então, acredito que isso faz com que as coisas aconteçam”, justifica.
Mas pra quem pensa que Maria Eduarda já mostrou tudo que pode fazer com a bola, esqueça! A craque tem almejado sonhos maiores e vem trabalhando muito para isso. “Meu objetivo é a seleção principal, né? É algo que quero muito na carreira. Também penso em ir pra fora e jogar em um time de grande expressão. Por isso tenho trabalhado muito para evoluir meu futebol e entregar sempre o melhor”, pontua.
O investimento na modalidade é importante para revelar nomes como o de Duda. Toda atleta que conseguiu fazer a transição entre o futebol amador e o profissional, reconhece isso. Segundo ela, muito tem sido feito entre os grandes clubes, mas é essencial dar atenção à base. “Se todos os clubes montassem uma base com um caminho estruturado e criassem uma equipe mais competitiva, isso faria com que o futebol ficasse mais bonito, atraindo mais olhares e aumentando o fluxo de torcida. O caminho essencial é investir na base” defende.
E para as jogadoras que querem seguir profissionalmente, ela também deixa seu recado.
“Independente das dificuldades, se você sonha em ser jogadora de futebol, que possa trabalhar desde pequena, dia a dia. Treinar, ter sempre a cabeça no lugar, com humildade, entusiasmo e paixão, e acreditando sempre em Deus e que as coisas vão acontecer de uma forma muito boa”