Equipe do 3B doa 100% do elenco ao rival Iranduba para disputa do Brasileirão Feminino; entenda a história
Por Fabiana Sousa
Apesar do histórico de rivalidade, o amor pelo futebol feminino falou mais alto na amazônia. O 3B anunciou, no retorno da Série A1 do Campeonato Brasileiro, o empréstimo de todo o seu elenco para o Iranduba. Grandes rivais, entenda como foi o processo de doação do elenco, algo inédito no futebol feminino.
A rivalidade entre os clubes começou em 2017 e hoje é considerada a maior da Amazônia. Para a torcedora, Jordana Mariele, que acompanha os jogos do Iranduba desde 2017, a parceria aconteceu em um bom momento. “Foi uma surpresa, geralmente ninguém se junta com rival. Essa parceria veio pra “salvar” o Iranduba, que já nos trouxe muitas alegrias”.
Após a paralisação do Campeonato Brasileiro por conta da pandemia causada pela Covid-19, o Iranduba perdeu grande parte do seu elenco. Para o retorno da competição, o time não tinha nenhuma atleta para colocar em campo.
Foi aí que a rivalidade amazonense ficou em segundo plano. Bosco Bindá, diretor de futebol do 3B, resolveu fazer um empréstimo para o Iranduba. Segundo Bindá, o acordo tem o objetivo de contribuir com o desenvolvimento do futebol feminino. “O futebol é a união de vários propósitos e sonhos. É nele que assistimos realizações e superações, ainda mais em um ano tão desafiador para o esporte brasileiro. Através disso, anunciamos que o 3B e o Iranduba estabeleceram uma parceria para o desenvolvimento do futebol feminino amazonense”.
O Iranduba, que ficou em terceiro lugar na Libertadores Feminina de 2018, começou a enfrentar uma grave crise financeira após assinar o seu patrocínio master com a empresa britânica VeganNation, que prometia um investimento no futebol feminino. O contrato firmado no fim de 2018 previa o pagamento atráves de moedas virtuais, o que não foi realizado. O clube colocou o caso na justiça, mas até o momento não houve nenhuma decisão.
Além do elenco completo, o acordo entre os times inclui também alimentação, estrutura, hospedagem e membros da comissão técnica. Todos os valores serão custeados pelo 3B.
Para a atacante do Iranduba, Luana Grabias, a parceria foi uma ótima opção para os times. “Pensando em prol do futebol feminino isso é muito bom. Existe o Iranduba que é um time competitivo, e hoje está criando o 3B, que está entrando no mercado como um time forte. Para o futebol de Manaus é importante ter dois times competitivos”.
A única preocupação do presidente das Feras da Amazônia era em não poder trazer de volta suas jogadoras para o início do Brasileirão Feminino A2, que começa sete dias após o fim da primeira fase da Série A1. Bosco recebeu o aval da CBF poucos dias antes do início do campeonato e oficializou o acordo.
Para Giselinha, lateral que chegou ao 3B no início de 2020, após 3 anos de Iranduba, a união foi importante para a evolução do futebol feminino. “A parceria foi bem surpreendente para todos. Mas em compensação ficamos felizes por estar ajudando o clube a se erguer novamente”. A atleta contou que os treinamentos realizados durante a quarentena foram importantes para manter o ritmo de jogo, e que hoje o 3B oferece a melhor estrutura do futebol feminino no Amazonas.
Rixa antiga
Em 2017, o duelo amazonense ficou ainda mais famoso no Brasil por conta de um abacaxi. Na estreia do Amazonense Feminino de 2017, o presidente do 3B, Bosco Brasil, lançou um abacaxi em frente ao banco de reservas do Iranduba.
A rivalidade vai ainda mais longe. Durante o Campeonato Feminino Brasileiro de 2016 os times eram parceiros. O Iranduba estampava a marca do 3B na camisa, numa espécie de patrocínio master. No final daquele ano as equipes se separaram sem justificativas.
A separação culminou na criação do 3B, que até então era considerado um time amador. Lauro Tentardini, diretor de futebol do Iranduba e Bosco Brasil trocaram duras crítica durante alguns anos até a reconciliação em 2020.
Tentardini elogiou a atitude do ex-rival. “Eu não acho que essa ajuda ocorre por marketing e nem por patrocínio. Ele (Bosco) quer ajudar o futebol amazonense. Houve três clubes que quiseram representar o Iranduba, mas a CBF veta desde o ano passado que um clube jogue fora do seu mando de campo. Pensei em pegar jogadoras de outros clubes, mas a situação do Iranduba não tem dinheiro para trazer atletas enquanto não sair a decisão judicial da VeganNation. Aí eu pensei no 3B”, relatou o diretor de futebol.
Para Grabias, a parceria é muito importante para ser deixada de lado por conta do desentendimento entre as equipes. ”Todas a atletas aceitaram representar o Iranduba, e todas estão felizes com isso. Por mais que o nosso desempenho não esteja tão bom até o momento, nós temos objetivos e trabalhamos todos os dias para cumpri-los.” Para a atacante, o propósito é que os dois times possam se encontrar em 2021, “Nosso objetivo é manter o Iranduba na primeira divisão, para que ano que vem a gente possa subir com o 3B. Ter dois times de Manaus na divisão A1.”
Campeonato Amazonense Feminino 2020
A Federação Amazonense de Futebol (FAF), divulgou nesta quarta-feira (30), o regulamento e a programação do Campeonato Feminino. A competição está marcada para acontecer de 24/10 a 14/11.
Na disputa, estão o 3B, Rio Negro, JC Futebol Clube e Recanto da Criança. O Iranduba, maior campeão amazonense com oito títulos, não fará parte do campeonato neste ano. Para o início da competição, o Hulk da Amazônia terá que devolver o elenco ao 3B para que o clube possa disputar o amazonense.