A gigante da zaga do Lyon: Wendie Renard

Com sete títulos da Champions League, sendo cinco consecutivos, Wendie Renard tem recorde de conquistas pelo Lyon. “Eu quero esses troféus, quero os títulos consecutivos da Champions League. Eu quero os recordes da Liga.”

Por Fernanda Gasel

A vitória do Lyon na Champions League conduziu a capitã Wendie Renard ao sétimo título na competição, cinco deles conquistados de forma consecutiva nos últimos anos. Sem dúvidas, é uma das melhores, senão, a melhor zagueira do mundo. Joga no Lyon desde o início de sua carreira e é a grande responsável pelo insuperável setor defensivo francês.

Renard não teve uma trajetória fácil para chegar ao futebol. Nasceu longe da França continental, na Martinica, uma ilha francesa nas Pequenas Antilhas. Em entrevista ao portal The Players Tribune, Renard classificou o local como o “fim do mundo”, disse que sua cidade tinha menos de 2 mil habitantes na época em que nasceu, e que desde pequena sabia que queria ser jogadora.

Começou no futebol aos 7 anos de idade, no Rise Préchotin, um time para meninos. Mas foi somente aos 8 anos, após a morte de seu pai, que a zagueira decidiu focar de verdade em seu sonho. Ela deixou a Martinica permanentemente aos 16 anos, e com a ajuda do seu treinador, atravessou o Oceano Atlântico e voou para a França para um teste em Clairefontaine. “E quando eu cheguei? Não era nada como a Martinica. Estava muito frio, estávamos na mata e não tinha muito sol! E não foi fácil. Na ilha, eu era conhecida como a garota que jogava futebol. Normalmente eu era a única em minhas equipes, mas na França? Ninguém me conhecia. Ninguém tinha ouvido falar de mim. E é claro que não. Todas as outras garotas foram observadas na França por anos. Eu era uma garota da ilha. Naquela semana, eu fiz o que pude para ser notada, mas eu simplesmente tive essa sensação. Isso não ia funcionar.” disse Renard em entrevista para o The Players Tribune. Realmente ela não conseguiu ser aceita no programa nacional de treinamento.

Naquela seleção, Renard não foi bem, mas seu treinador conseguiu outro teste. O técnico do Lyon, Farid Benstiti, viu o potencial da garota, que fez sua estreia no time em 2006, tornando-se regular um ano depois. Mesmo depois de estabelecida como jogadora, Renard ainda enfrentou desafios devido a sua altura, que era motivo de zombaria. Mas a atleta provou o seu talento e conduziu o time a grandes vitórias.

WhatsApp Image 2020-08-31 at 12.06.37
Foto: UWCL

Medindo 1,87m, a zagueira percebeu que sua altura era uma vantagem. A defesa do Lyon dificilmente sofre gols: nas últimas seis temporadas na França, não foram mais de seis. Renard usa do seu atributo para bloquear os cruzamentos adversários, e se destaca nas bolas aéreas tanto defensivas quanto ofensivas.

Durante a temporada de 2019-20, marcou 13 gols em 21 jogos, se tornando também artilheira do time. Em 294 jogos oficiais, ela marcou 93 gols, a maioria de cabeça, o que não é surpreendente. Além das habilidades pelo alto, Renard também se destaca em interceptações, disputa de bola e saídas do campo de defesa e, basicamente, é quase impossível marcá-la. Ela contribui em todos os aspectos para o Lyon. Foi essencial na classificação do clube para a quinta final consecutiva da Champions League, com um gol de cabeça em um jogo apertado contra o rival Paris Saint-Germain. A sequência na temporada coloca Renard como um dos nomes favoritos ao título de Melhor do Mundo da FIFA 2020.

Em seus 14 anos na equipe, Renard conquistou 15 títulos de campeonato. Ela é recordista de títulos do Lyon e acredita que no clube pode conquistar muito mais.

“Fiquei no Lyon toda a minha carreira. As pessoas perguntaram por que – tive a oportunidade de jogar em outro lugar, em outras ligas. Mas tudo se resume a isso, e talvez, como mulheres, não se espere que digamos isso. Mas, sim, eu quero esses troféus . Quero títulos consecutivos da Champions League. Eu quero os recordes da liga. Eu quero rivalidades. Quero os insultos quando entrar em campo no derby. É disso que o futebol é feito e é por isso que as mulheres também jogam. Porque gostamos quando há lutas no jogo, gostamos quando há uma entrada difícil, quando há gritos e brigas. Dessa forma, é lindo.” (entrevista Players Tribune)

Jornalista e 100% paulista. Há quem diga que tem cara de metida, mas quem conhece sabe que não tem frescura. Se deixar faz amizade com a cidade inteira, porque não fica quieta nem por um segundo. Apaixonada por esportes, sonha em se tornar repórter televisiva. Acredita que o jornalismo esportivo é muito mais do que falar de esporte, e a partir dele quer contar histórias.