Opinião – Para as mulheres, a cruzmaltina tem sido pesada e difícil de carregar

No jornalismo, existem pautas que são “de lei”, como se diz no ditado popular. Aquelas do tipo: o que abre e fecha no feriado de sete de setembro; como os pais se preparam para as compras de volta às aulas ou até o acompanhamento rotineiro do aumento da energia e do combustível (e haja aumento!). 

Porém, se você cobre futebol feminino, em algum momento da vida vai escrever sobre descaso, desrespeito, assédio, negligência e tantos outros adjetivos que nem vale a pena citar. Coincidentemente (contém ironia), as histórias quase sempre seguem o mesmo enredo. 

Nesse início de 2022, o Vasco da Gama foi o grande protagonista.O centenário clube carioca foi alvo de denúncias de atraso de salários, privação de uniformes e até de alimentação para as atletas. 

Veja bem, diferente de muitas histórias que já contamos por aqui, o clube não negou os problemas. Em uma sequência de tweets do perfil oficial do @vascofeminino, o Vasco se explicou alegando que está “batalhando incansavelmente em busca de uma solução para regularizar a situação…” 

O extenso arsenal de promessas vem acompanhado da desconfiança de muitos que presenciam os bastidores da equipe. Talvez porque o histórico do clube carioca seja de muito papo e pouca prática. Em 2020, o atual presidente, Jorge Salgado, tinha como promessa de campanha o maior investimento em futebol feminino do Brasil, totalizando 15 milhões nos primeiros três anos. 

Seguindo a lógica, ao menos cinco milhões já deviam ter sido colocados em prática no primeiro ano de gestão. Em julho de 2021, novamente o Presidente voltou a afirmar que a renovação de patrocínio com cervejaria Ambev garantiria a valorização da modalidade. Promessas difíceis de engolir, dada a realidade divulgada recentemente. 

Agora, veja bem, não precisa ser especialista em contabilidade e Marketing, para entender que, diante de todos os problemas denunciados nos últimos dias, alguns são bem fáceis de resolver.  

O fornecimento de uniforme correto e suficiente para as atletas é algo que o clube pode fazer sem movimentar grandes investimentos (se a justificativa é financeira). Para além disso, a alimentação, algo essencial para a sobrevivência das atletas, também pode ser amplamente fornecida, visto que a equipe trabalha com restaurante e refeitório na sua estrutura. 

Pois bem, a triste realidade é que parece que no Vasco, onde comem três, não dá para comer quatro. E fica até difícil para as atletas “vestirem a camisa” e darem o máximo em campo, já que, literalmente, não têm camisa. 

O que eu sempre me pergunto (e claro, essa pergunta é retórica). Ao Vasco e aos clubes que ainda negligenciam o futebol feminino, falta dinheiro ou vontade? 

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.
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