Cristiane é o Brasil além de Marta

Por: Amanda Porfirio

Um dia antes da estreia do Brasil na copa, uma notícia preocupava boa parte da torcida que vinha acompanhando os preparativos da seleção. Em coletiva o técnico Vadão anunciou o que já era esperado: Marta não enfrentará a Jamaica.

Hoje, vendo o Brasil jogar, a preocupação deu lugar ao êxtase em testemunhar a atacante Cristiane marcando um Hat-Trick*, marca pessoal inédita em copas do mundo. Além dela, só Pretinha e Leônidas da Silva marcaram três gols em uma estreia de copa. E pra quem já é a maior goleadora dos jogos olímpicos, com 16 gols, chegar a 10 tentos em copas do mundo logo na estreia, não é nada mal.

Cris Rozeira, que integra atualmente o elenco do São Paulo, já é velha conhecida dos torcedores. Ainda assim, ao pesquisar o seu nome após a partida de hoje, não faltaram matérias cujo título, eram: “Conheça Cristiane, autora dos três gols contra a Jamaica”. Apesar de parte de mim lamentar muito em saber que muita gente não conhece uma das maiores atacantes do Brasil, outra parte fica muito feliz em ver que as mesmas pessoas estão descobrindo uma seleção sem Marta.

Não estou demonizando nem negligenciando a história da maior jogadora de futebol do mundo. Nem poderia, os números não mentem. Marta é a rainha do futebol, e disso ninguém duvida. É que eu sou totalmente contra a dependência de um craque em uma seleção. E a cultura da Neymardependência ou a Martadependência, ou seja lá a dependência que for, faz muito mal às nossas seleções.

Por isso, eu estava muito mais ansiosa para o jogo de hoje. E diferente de boa parte das pessoas, eu queria muito ver a seleção sem Marta. Fez falta? Bastante. Mas não vamos negar que foi uma experiência interessante. Precisamos de um grupo forte, explorando as explosões da Debinha, as infiltrações da Bia Zaneratto pelo centro, o talento (e que talento!) da formiga pelo meio. Precisamos cada vez mais do espaço que a Andressa Alves necessita pra mostrar tudo que ela pode fazer. Também queremos ver a Tamires e a Letícia Santos avançando pelos lados e tendo a mesma qualidade em recompor a defesa quando necessário. Precisamos também da Kathellen e Mônica segurando tudo lá atrás, e que a Bárbara cresça cada vez mais quando acionada no gol. Também queremos ver as reservas entrarem com o mesmo vigor e vontade que a Geyse e a Ludmila de hoje.

Ah, e claro! Precisamos muito da Marta, porque ela é uma das peças mais importantes desse grupo. Em entrevista o técnico da seleção espanhola, Jorge Vidal, disse que não gostava de enaltecer as craques da seleção, mas sim o grupo, porque o time é mais forte quando pensa como e para o grupo. Esperto esse técnico, sabe das coisas.

Temos duas partidas difíceis pela frente. Quem assistiu ao jogo entre Austrália e Itália hoje mais cedo, sabe disso. É necessário corrigir os repetitivos erros que a seleção comete. Mais ainda, estimular o Brasil além de Marta. E aproveitar tático-tecnicamente os talentos individuais que temos, para mostrar que somos um grupo forte. Um dos mais fortes dessa copa.

 

*Hat-Trick: Termo utilizado quando um atleta marca três gols em uma mesma partida de futebol. 

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.
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