Promessas: Juju Gol

“Nós somos seres humanos, não tem nenhuma diferença. Se uma menina quiser jogar futebol, ela vai sim jogar futebol. (Juju Gol)”

O que você fazia quando tinha 4 anos de idade? Foi com essa idade que a Júlia Rosado, conhecida popularmente como Juju Gol, começou a chamar a atenção com a bola nos pés. Hoje ela tem 9 anos, e é uma das maiores promessas do futebol feminino no Brasil. Por isso, a primeira matéria da série “Promessas” é dedicada a ela.

Juju começou batendo bola no time do prédio em que morava. Ela mandava tão bem, que o técnico chamou seus pais para uma conversa. Ele explicou que Juju levava o futebol muito a sério, e que seria importante que os pais a incentivassem a progredir no esporte.

Cláudia Rosado(Mãe), Juju Gol e Wellington Souza (Pai), na conquista da Paris Cup, no Maracanã. (Acervo Pessoal)

Não deu outra. Cláudia Rosado e Wellington Souza, buscaram rapidamente um meio de profissionalizar a paixão que a filha tinha por jogar futebol. Aos 5 anos, eles a levaram para encarar uma peneira que selecionaria crianças para integrar o time mirim da escolinha brasileira do Barcelona. Entre os 200 selecionados, Juju era a única menina. “Ali foi que a nossa ficha caiu. A gente parou e pensou: não, pera! Ela tem alguma coisa diferente”, explica Cláudia.

Dizer que Juju se apaixonou pelo futebol desde pequena, não é nem de longe um exagero. As bonecas que ganhava de presente, se transformavam em bolas. “Eu pegava essa boneca, dava uma giradinha pra puxar a cabeça, porque ficava mais fácil, daí eu arrancava. Eu tinha 3 bonecas. Eram 3 bolas”, descreve Juju de maneira bem descontraída. O método de arrancar cabeça de bonecas para usar como bolas, foi o mesmo utilizado por Andressa Alves, jogadora da seleção brasileira, e uma das inspirações de Juju. Tanto Andressa, quanto Júlia, são destaque da mostra “Contra-ataque! As mulheres no futebol”, exposição de iniciativa do banco Itaú e parceiros, que narra a trajetória da modalidade no Brasil e destaca os nomes de atletas que fazem e fizeram história.

A trajetória de profissionalização de Juju começou na escolinha do Barcelona e foi crescendo com o tempo. Aos sete anos ela se tornou a primeira jogadora de sua idade federada no Brasil. Com isso, passou a disputar competições oficias com os meninos, pois não haviam equipes femininas nos torneios. Para Juju, começar a jogar desde cedo faz muita diferença. “As meninas profissionais, começaram a jogar futebol mesmo com 16 anos. Eu comecei com quatro. Então, o currículo, a experiência, o costume. Tudo isso é muito importante”, afirma.

Foto: Acervo pessoal

Agora, com nove anos de idade, Juju Gol é sensação na internet. Seu perfil no Instagram é seguido por mais de 50 mil pessoas. É lá que ela posta lances, gols e as conquistas da carreira. Os fãs adoram, e sempre mandam mensagens de apoio e incentivo. Vez ou outra surge um comentário preconceituoso. Mas aí, ela já sabe como contornar.

“Isso realmente me motiva mais, pra conseguir provar, pra o pouquinho de pessoas que ainda acham que era pra eu estar em casa, que não era pra eu estar no gramado, que com os meus pés eu posso impressionar o mundo, eu posso me tornar uma grande jogadora, eu posso vestir a camisa da seleção brasileira como qualquer outro homem”.

Essa disciplina e determinação da Juju vão além do esporte. De acordo com sua mãe, um dos pontos mais importantes do bom desenvolvimento dela, é a parceria com a escola. Mesmo em meio a viagens e uma rotina corrida no esporte, a atleta é uma das melhores alunas da sua turma. “Como a Juju viaja muito, ela perde muitas aulas e provas. A gente sempre teve um apoio da escola nisso. Tanto que a menor nota dela é 8. É um exemplo de uma criança que já tem uma grande responsabilidade com o esporte, e administra bem os estudos”, descreve Cláudia.

Conquista da Paris Cup no Maracanã. (Acervo Pessoal)

E foi na rotina de estudos e futebol, que a Juju começou a colecionar conquistas pelos clubes por onde passou. Dentre os títulos, ela destaca um em especial. “A primeira vez que eu joguei no Maracanã pela Paris Cup. Quando entrei no maracanã eu falei: Que grande conquista! Mas eu vou ganhar aqui dentro. Daí eu ganhei invicta no maracanã, na série ouro. Foi incrível!”, revela.

Atualmente Juju defende as camisas do Centro Olímpico-SP, equipe feminina, e o PSG Elite-SP, equipe mista. Para isso, toda sua família precisou mudar para São Paulo, estado que atualmente gera mais oportunidades para a modalidade no Brasil.

Além de ser um destaque dentro de campo, Juju gol também não fica pra trás fora das quatro linhas. A atleta é patrocinada pela Nike e tem sido constantemente uma voz ativa na luta pela igualdade no futebol. Questionada sobre o que ainda falta para que meninas como ela possam ter melhores condições para jogar no Brasil, Juju responde sem titubear.

“Falta apoio, falta oportunidade, falta saber que nós podemos. E antes de falar, ver. Antes de falar, se pôr no lugar da pessoa que tá fazendo. É necessário acreditar e apostar mais nas meninas e nas mulheres que querem jogar futebol”, defende.

 

Jornalista e Profissional de Educação Física. Pernambucana, bairrista por natureza, vivendo a máxima Gonzaguista: “Minha vida é andar por esse país”. Apaixonada por futebol desde que respira. Atualmente vive em São Paulo, e tem como sonho ajudar a conduzir o futebol feminino ao topo. Fora das quatro linhas, gosta de ler, pedalar, explorar a natureza e é obcecada pela ideia de estar sempre criando algo novo.
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