História de conquistas e superação: o Avaí Kindermann é a força perseverante do Sul no futebol feminino

Por Vitória Soares 

No ano em que completou 45 anos de história, o Avaí/Kindermann entra em campo neste domingo (22), às 20h, na Ressacada, para disputar o primeiro jogo da grande final do Brasileiro Feminino A1, contra o Corinthians. Diferente do seu rival e de outros clubes do campeonato, o Kindermann percorreu uma trajetória diferente no futebol feminino.

Tudo começou em agosto de 1975, na cidade de Caçador, em Santa Catarina, quando o empresário Salézio Kindermann resolveu montar uma equipe masculina de futebol da Associação Esportiva Kindermann. No entanto, em 2004, Salézio encerrou as atividades da modalidade masculina e abriu espaço para o projeto do time de futsal feminino, que alcançou ótimos resultados logo no seu início, como a conquista da Taça Brasil de Futsal sub-20, no primeiro ano, e em 2005 na categoria adulta.

Com o sucesso nas quadras, foi a vez do clube passar a investir em uma equipe feminina no futebol de campo. Em 2008, seu ano de estreia, o time de Caçador conquistou o Campeonato Catarinense e ainda representou o estado na Copa do Brasil, chegando às semifinais. De lá pra cá, o Avaí/Kindermann se consolidou como uma das grandes camisas do futebol feminino no Brasil. Ao todo, são 11 títulos estaduais, um vice-campeonato da Série A1, em 2014, e a conquista do título da Copa do Brasil de 2015.

A zagueira e capitã do time, Tuani Lemos, chegou ao clube catarinense em 2012 e se tornou uma das referências da equipe “Uma trajetória muito bonita que construí dentro do clube, de muitas vitórias, de muitos aprendizados e algumas derrotas que servem para esses aprendizados. É de uma alegria muito grande estar completando 8 anos de clube esse ano, não é pra qualquer uma ficar tanto assim em clube, que eu considero a minha casa hoje e eu vejo que tenho uma trajetória de muita felicidade.”, relata a capitã.

A zagueira Tuani Lemos, está no time catarinense há 8 anos, e hoje é uma das líderes da equipe. Foto: Andrielli Zambonin / Avaí Kindermann

A tragédia que parou o Kindermann

Em dezembro de 2015, uma tragédia acabou interrompendo o projeto do time catarinense. O então técnico das Caçadoras, Josué Henrique Kaercher, foi assassinado por Carlos José Correa, ex-treinador do Pantera Negra, um time de futsal que era mantido pelos mesmos donos do clube de Caçador. Abalados com o ocorrido, Salézio e os outros dirigentes resolveram encerrar as atividades do clube por tempo indeterminado.

O recomeço

Cerca de um ano depois, o clube recomeçou. Para a reconstrução da equipe, o Kindermann resolveu apostar na montagem de um grupo com jogadoras experientes e jovens, entre elas estavam a goleira da seleção, Bárbara, e a Tuani, que voltaria para a sua segunda passagem pelo time catarinense. Já o comando ficou nas mãos de Jorge Barcellos, que já foi técnico da seleção brasileira.

Com a mudança na forma de disputa do Campeonato Brasileiro, em 2017, reformulado pela CBF, criando a Série A2 e a garantia de um lugar na primeira divisão aos oitos melhores times do ranking feminino da entidade, o Kindermann iniciou o ano em oitavo lugar e assim pôde disputar o Brasileirão, conseguindo chegar até as quartas de final da competição.

A partir deste recomeço, o Avaí/Kindermann se consolidou mais ainda no cenário com os bons resultados que alcançou até este ano. “Desde que retornamos as atividades do clube, em 2017 e 2018, ficamos em sexto lugar no Brasileiro, em 2019, no terceiro lugar e esse ano estamos na final. Uma evolução muito grande da equipe e do clube como um todo, e isso é muito importante para todos nós, inclusive para a cidade de Caçador e para o estado de Santa Catarina.”, ressaltou Tauni Lemos.

A relação entre o clube e a cidade 

Além de construir uma bela história dentro de campo, o Kindermann também consolidou uma ótima relação não só com os seus torcedores, mas com toda a cidade de Caçador. “A cidade respira o futebol feminino, a cidade nos apoia, nos acolhe, eles torcem a cada ano mais pela nossa equipe. As torcidas nos jogos dão show sempre, nos empurram, é muito difícil ganhar da gente aqui dentro, porque a torcida joga junto também. Os torcedores conversam com a gente na rua, é uma relação muito boa, muito familiar.”, disse a capitã do time.

Antes da pandemia, a torcida das Caçadoras presente no duelo entre Avaí/Kindermann e Grêmio, pela primeira fase do Brasileiro A1, em fevereiro deste ano. Foto: Andrielli Zambonin / Avaí Kindermann

Parceria com o Avaí

Com a obrigatoriedade de os clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro masculino criarem os times femininos, o Avaí fez uma parceria com o Kindermann, em 2019. A equipe passou a se chamar Avaí/Kindermann e manda os seus jogos em Florianópolis, no estádio da Ressacada e em Caçador também.

A zagueira Tuani, ressaltou a importância dessa parceria e o que mudou a partir dela. “A parceria com o Avaí só veio para agregar com a nossa equipe. Além dos materiais e da verba, eu acho que uma das coisas que mais mudou foi a visibilidade para nós atletas e para a equipe, lá em Florianópolis. É gritante ver o tanto que as pessoas de Florianópolis estão interagindo com a gente, estão abraçando a equipe. A visibilidade foi com certeza uma das coisas que mais mudou com essa parceria, que está dando muito certo e sendo de muito sucesso e a gente espera que dure aí por muitos anos”, conta.

Mais uma vez na final 

O Avaí/Kindermann disputa esse ano a sua segunda final de Campeonato Brasileiro, a primeira foi em 2014, quando acabou perdendo o título para a Ferroviária. Segundo Tuani, a equipe está muito feliz, não só por chegar a mais uma final, mas também por todo o bom trabalho do grupo ao longo da competição. “É uma sensação maravilhosa e a gente está disfrutando muito disso, muito desse momento feliz, não só pelas jogadoras e comissão técnica, mas pela cidade, pelo clube inteiro. É uma sensação maravilhosa de que o nosso trabalho deu certo esse ano e nós estamos colhendo todos os frutos agora, e vamos desfrutar muito nesses dois jogos da final.”

Durante todo o campeonato, até a final, o Avaí/Kindermann é a única equipe a representar Santa Catarina no Brasileirão Feminino. A capitã do Kindermann falou da sensação que é ser o time representante do estado na elite do futebol feminino “É uma alegria imensa poder representar Caçador e Santa Catarina, como equipe e como jogadora dessa equipe. A gente está mostrando que não é só o estado de São Paulo que têm equipes fortes”.

Sem esconder a felicidade, ela ainda reforçou o desejo de ver mais equipes catarinenses na competição nacional, “Gostaria muito de ver mais equipes de Santa Catarina, disputando e dando todo o apoio que todas as meninas merecem, para que não seja apenas o Avaí/Kindermann, mas que outras equipes de Santa Catarina venham para o futebol feminino e despontem, para que a gente tenha um campeonato estadual forte e para que possamos colocar mais equipes de Santa Catarina nessa disputa de Brasileiro (…) e eu acho que quanto mais clubes estiverem a frente disso será muito bom para o futebol feminino e para todas nós.”

Paulista em terras paraibanas, jornalista em formação e apaixonada por esportes desde pequena. Tinha o sonho de ser nadadora profissional, mas como não deu certo, encontrei no jornalismo uma chance de continuar a viver o esporte de perto. Seja no trabalho, na faculdade, em casa, com amigos, estou sempre falando, assistindo ou pensando sobre futebol, e também um pouquinho sobre F1. Além disso, gosto muito de sair para comer ou beber, ir ao cinema. E também de ficar em casa, assistindo a alguma série, lendo ou só curtindo minhas playlists favoritas.