Copa América Feminina: conheça o histórico das seleções que o Brasil vai enfrentar na fase de grupos

Instagram/Pamela Conti

Na próxima sexta-feira (08), dez seleções começam a disputa pelo título da Copa América Feminina 2022, na Colômbia. Além da taça, o torneio também vale a vaga para as Olimpíadas de Paris e a Copa do Mundo de 2023. O Brasil está no grupo B junto com Argentina, Peru, Uruguai e Venezuela. Apesar das diferenças técnicas entre as equipes, todas as adversárias da Seleção Brasileira têm pontos em comum nas suas histórias. Falta de investimento, visibilidade, amadorismo e luta por melhores condições são alguns aspectos que unem os caminhos construídos por essas seleções que chegaram até esta Copa América.

Confira abaixo um pouco do histórico dentro do futebol feminino dos times que o Brasil vai enfrentar na primeira fase da Copa América.

Argentina

Por muito tempo, as mulheres que jogavam futebol na Argentina eram invisibilizadas. A modalidade só foi reconhecida pela Associação Argentina de Futebol, há cerca de 30 anos, em 1991, mas ainda de forma amadora.

Antes disso, a Seleção Argentina participou do segundo Mundial de futebol feminino, em 1971, no México. O campeonato reuniu seis seleções e foi organizado pela Federação Internacional e Europeia de Futebol Feminino e não contou com a chancela da FIFA. Na época, a Argentina venceu a Inglaterra por 4 a 1, diante de 110 mil pessoas que estavam no estádio Azteca.

Só em 1993, a Seleção Argentina disputou sua primeira partida oficial. O time Albiceleste jogou um amistoso contra o Chile, em Santiago, e venceu por 3 a 2. A partir daí, a equipe argentina começou a construir o seu caminho na modalidade participando de várias competições como Copa América, Sul-Americano Feminino, Olimpíadas, Jogos Pan-Americanos e Copa do Mundo da FIFA.

Apesar da presença da Argentina em campeonatos continentais e mundiais, o desenvolvimento da modalidade no país demorou a acontecer. Em 2015, as mulheres argentinas levantaram o movimento #NiUnaMenos que pautava a luta contra a violência de gênero, igualdade salarial, legalização do aborto e o futebol feminino. A atacante Macarena Sánchez foi uma das líderes quando reivindicou seus direitos no esporte. Em 2019, ela se tornou a primeira jogadora a ter um contrato profissional no país, pela equipe do San Lorenzo.

O movimento iniciado por Sánchez fez com a profissionalização do futebol feminino se tornasse realidade. Desde 2020, todos os clubes do Campeonato Argentino precisam ter pelo menos oito atletas com contratos profissionais. Além disso, todos recebem um apoio financeiro de R$ 10 mil a R$ 12 mil reais para as despesas.

Título histórico e quebra da hegemonia brasileira  

Uma das grandes marcas da história da Seleção Argentina, sem dúvidas, foi a conquista da Copa América Feminina em 2006. A equipe Albiceleste além de conquistar o título inédito, também quebrou a hegemonia que o Brasil tinha até então no torneio continental, com quatro taças levantadas. 

Jogando a competição em casa, em Mar del Plata, o time argentino passou da primeira fase, liderando o seu grupo. Na fase final, que foi em formato de pontos corridos, ficou a frente da Seleção Brasileira por um ponto, quando ganhou o último jogo da competição contra o Brasil por 2 a 0, se tornando a melhor Seleção da América do Sul. 

Além do Brasil, a Seleção Argentina foi a única equipe a conquistar a América do Sul. Foto: CDN Deportes

Ao todo, a Argentina participou sete vezes da Copa América, estreando em 1995. A Albiceleste é a única seleção a ter o título, além do Brasil, e foi o país que mais foi vice-campeão da competição, em 1995, 1998 e 2003. Em 2010, 2014 ficou na quarta posição. E em 2018 foi terceiro lugar.

Peru 

Assim como na Argentina, a Seleção Peruana iniciou a sua trajetória nos anos 90. Em 1997, a equipe se preparava para a sua primeira participação na Copa América Feminina do ano seguinte. No entanto, a participação da La Blanquirroja estava ameaçada por falta de apoio da própria Federação Peruana de Futebol (FPF). No orçamento feito pela FPF para aquele ano, o futebol femininio não foi incluído. Com isso, a própria equipe precisou buscar o apoio de patrocinadores em todos os lugares. E a luta deu certo. Em dezembro de 97, as jogadoras comandadas pelo técnico Luis Sánchez realizaram o primeiro treino da história da Seleção Peruana Feminina.

Em 1998, a Seleção Peruana fez a sua estreia na Copa América Feminina. Em seu primeiro jogo oficial, o Peru foi goleado por 15 a 0 pela Seleção Brasileira. No entanto, o mau começo não abalou a confiança das jogadoras peruanas. Na partida seguinte, diante do Chile, a La Blanquirroja conquistou um triunfo histórico ao vencer as chilenas por 1 a 0. A partir daí a Seleção Peruana deu início a sua melhor participação da história na Copa América. O Peru chegou até as semifinais, onde bateu o Equador nos pênaltis e ficou com a terceira melhor campanha. 

Seleção Peruana Feminina em sua participação na Copa América de 2003. Foto: GEC

Embaladas pela boa campanha na estreia, as jogadoras da La Blanquirroja conseguiram chegar mais uma vez na fase final da Copa América Feminina de 2003, ficando em quarto lugar. Porém, nas edições seguintes, a Seleção Peruana não conseguiu manter o bom desempenho. Em 2006, caiu na primeira fase, ficando em oitavo. Em 2010, 2014 e 2018 ficou em nono. 

Além das eliminações frequentes, a Bicolor deixou de disputar torneios menores. E para piorar a situação das mulheres que jogavam futebol pelo país, o Peru parou até de disputar amistosos e a desorganização da Federação Peruana de Futebol também respingou na seleção.

#QueremosSerVistas  

Em 2019, ano da Copa do Mundo Feminina da França, que foi significativa para o desenvolvimento do futebol feminino, também foi um ano marcante para a modalidade no Peru. 

Durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, a Seleção Peruana jogou em sua casa contra a Argentina diante de 22 mil torcedores, no estádio San Marcos. Um apoio e reconhecimento para as jogadoras que por anos foram invisibilizadas. 

Mas, após o Pan-Americano, o campeonato nacional retornou com portões fechados, sem a presença da torcida. Em duas partidas que reuniram os dois melhores times da competição, Universitario e Sporting Cristal, os clubes chegaram a anunciar a venda de ingressos, porém, não permitiram a entrada de torcedores sem nenhuma explicação. 

No segundo encontro dos times, um gesto da atacante do Universitario, Steffani Ethel Otiniano Torres, iniciou uma revolução. Após marcar o gol da vitória contra o Sporting Cristal, a atacante comemorou com os braços na horizontal, simbolizando a igualdade. Esse foi o mesmo gesto que Marta fez quando se tornou a maior artilheira da história da Copa do Mundo entre homens e mulheres.

A comemoração de Steff foi além e ganhou as redes sociais e as ruas, puxando o movimento #QueremosSerVistas, feito pelas jogadoras com a torcida em prol do futebol feminino peruano. 

Steff Otiniano deu início a uma grande mudança do futebol feminino do Peru. Foto: Instagram

O movimento deu certo, a modalidade começou a ter mais visibilidade no país. As partidas tiveram mais espaço na mídia e os clubes começaram a ter páginas exclusivas para as equipes femininas nas redes sociais. 

Uruguai 

No Uruguai, o futebol feminino foi organizado de forma independente por muitos anos. Zulma Palavecino, responsável pelo primeiro time da modalidade no país, o Atlético Nacional, fundou na década de 70 junto com outros dirigentes, a Associação Amadora de Futebol Feminino. 

A Associação durou apenas cinco anos. Mas, durante esse período, foram realizados campeonatos que contaram com a participação de 17 equipes em todas as edições realizadas. 

Somente em 1996, depois que a FIFA obrigou todas as entidades filiadas a terem futebol feminino, que a Associação Uruguaia de Futebol criou de forma oficial o Campeonato Uruguaio de Futebol Feminino.

Com isso, em 1997, a Seleção Uruguaia disputou sua primeira partida oficial contra o Canadá. 

A Seleção Uruguaia Feminina tenta sua primeira classificação para uma Copa do Mundo. Foto: Fútbol Uy

No cenário continental, as Charruas ainda tentam se consolidar. Das suas seis participações na Copa América, o Uruguai conseguiu chegar apenas uma vez na fase final, em 2006. Naquele ano, a Celeste ficou em terceiro lugar quando derrotou o Paraguai por 3 a 2. 

Em 2020, um pequeno passo foi dado para o crescimento do futebol feminino no país. O Nacional oficializou o contrato profissional de três atletas do clube: Antonella Ferradans, Esperanza Pizarro e Josefina Villanueva. Apesar de ainda estar longe do ideal, essa atitude representou um avanço na história do futebol feminino uruguaio, especialmente no time do Nacional. 

Venezuela 

Apesar de disputarem competições oficiais desde 1991, foram as categorias de base da Seleção Venezuelana que tiveram grande destaque. A La Vinotinto foi bicampeã do Campeonato Sul-Americano de Futebol Feminino Sub-17 em 2013 e 2016, e foi terceiro lugar em 2010. Na Copa do Mundo da categoria, a Venezuela teve a quarta melhor campanha por duas vezes, em 2014 e 2016. Já pelo Sub-20, foi vice-campeã da Sul-Americana em 2015.

Um dos líderes da Seleção Venezuelana ao longo desses bons resultados nas categorias de base foi o técnico Kenneth Zseremeta, que esteve na equipe entre 2008 e 2017. Mas o bom trabalho de Zseremeta escondia uma série de abusos e assédios cometidos pelo treinador. Em outubro do ano passado, 24 jogadoras da Seleção divulgaram uma carta aberta nas redes sociais acusando o técnico panamenho de assédio, abuso físico, psicológico e sexual contra as atletas, inclusive menores de idade. Segundo o relato das jogadoras, era comum que Zseremeta cometesse abusos físicos e psicológicos durante os treinamentos, além de perguntar e comentar sobre a intimidade das atletas, como a orientação sexual. 

Em abril deste ano, a Federação Venezuelana de Futebol emitiu uma nota declarando que Kenneth Zsemereta foi culpado pelos abusos por violar artigos do Código de Ética da FIFA e dos estatutos da Federação. Ele também ficou proibido de atuar em qualquer atividade relacionada ao futebol no país por 20 anos. Além disso, o ex-assistente técnico William Pino, cúmplice das ações do treinador, também foi banido do futebol por oito anos.

Renovação com Pamela Conti 

Para o futebol femino da Venezuela crescer, em 2019, a italiana Pamela Conti assumiu a Vinotinto. A treinadora que teve passagens no comando técnico da base do Atlético de Madrid e na supervisão de campos para times de futebol feminino do Real Madrid, chegou com o objetivo de reestruturar a Seleção Venezuelana dentro e fora de campo. 

A italiana Pamela Conti está a frente da Seleção Feminina Venezuelana há mais de dois anos. Foto: Instagram

Nos gramados, a meta principal é classificar a Venezuela para seu primeiro Mundial, através da Copa América deste ano. A Seleção Venezuelana participou de sete edições da competição continental, ficando de fora apenas em 1995. Na primeira edição do torneio, a Vinotinto conseguiu seu melhor resultado, quando ficou em terceiro lugar. 

Onde acompanhar

A Copa América Feminina 2022, que começa na próxima sexta-feira (8), vai contar com transmissão do SBT, na TV aberta, e do SporTV, nos canais fechados. Além disso, no site e nas redes sociais do Fut das Minas você acompanha a cobertura completa da competição.

Paulista em terras paraibanas, jornalista em formação e apaixonada por esportes desde pequena. Tinha o sonho de ser nadadora profissional, mas como não deu certo, encontrei no jornalismo uma chance de continuar a viver o esporte de perto. Seja no trabalho, na faculdade, em casa, com amigos, estou sempre falando, assistindo ou pensando sobre futebol, e também um pouquinho sobre F1. Além disso, gosto muito de sair para comer ou beber, ir ao cinema. E também de ficar em casa, assistindo a alguma série, lendo ou só curtindo minhas playlists favoritas.
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